Quando a largada da competição feminina para BMX foi dada, ás 15h da última quarta-feira, em Londres, um coração bateu diferente das demais competidoras. Squel Stein não era uma destas atletas forjadas em laboratório, construída para vencer. A menina que cresceu em Rio do Sul veio para competir, sim, mas também para cumprir uma missão de vida.

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? Confira imagens da brasileira Squel Stein

Londres seria o paraíso para ela. Aqui, 70% das ruas têm ciclovias. Se assim fosse no Brasil, o coração de Squel não estaria dilacerado pelo destino. A competidora catarinense tatuou no ombro o rosto da amiga Yohanna, parceira de competições, morta em 2007, em Rio do Sul, atropelada por um caminhão quando andava de bicicleta. Squel participa de movimentos ativistas para que o Brasil abra mais ciclovias.

Então, os quase 180 batimentos cardíacos daquele momento da largada para tomada de tempo distribuíam adrenalina carregada com força para os músculos para competir, mas também muita emoção para a alma. Pedalar ali já significava uma medalha de ouro para Squel. Uma vez que sua presença naquela prova seria improvável.

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Ela poderia ter sido atropelada, já que andava sempre com a amiga pelas ruas de Rio do Sul. Ou ter largado o esporte, quando sofreu um grave acidente no Pan do Rio de Janeiro, mas se recuperou e teve coragem para retomar o esporte.

Ou a atleta poderia não ter atingido o índice, o que foi um ato de heroísmo. Até o momento o Brasil não possui uma pista adequada para o BMX, enquanto países como Estados Unidos constroem réplicas olímpicas em seus centros de treinamento.

– Tive de driblar muita dificuldade, realmente é algo especial estar aqui, diante da falta de condições e incentivo ao esporte no Brasil, mas foi uma vitória pessoal motivada, sim, por muito treinamento e por muita força mental com base em todas as dificuldades que venci na vida – acredita Squel.

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Dia de correr por fora

A única maneira de os brasileiros treinarem em uma pista de supercross de dimensões olímpicas é viajando para o exterior. Squel passou 20 dias na Argentina antes de vir a Londres, porque lá tem pista olímpica.

Classificada para as Olimpíadas após chegar à final do Campeonato Mundial de BMX, algo que surpreendeu especialistas do mundo todo, Squel sequer tinha uma bicicleta reserva para competir, enquanto rivais colecionam de quatro a seis bicicletas, facilitando o ajuste e os treinos.

Squel fez um tempo conservador, o 15º lugar, vai correr dentre as oito que largam nas três baterias de amanhã na pior colocação. Mas sua precaução foi pensada com antecedência.

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– Optei com meu técnico por evitar um acidente, nunca fui boa em tomada de tempo. Na corrida, no meio do bolo, me destaco, consigo render mais sob pressão, têm atletas que perdem desempenho, foi assim que fui bem no Mundial – avisa.

Mas quem ousa achar isso ruim? Aquele que não valorizar esta participação olímpica, não conhece o verdadeiro espírito dos Jogos, onde ser campeão vai muito além de uma perfeição à Bolt ou Phelps.

Desde quarta, o coração de Squel está livre para bater na plenitude de sua força. Agora ela tem de seguir fazendo o que nunca abriu mão: correr por fora para tentar algo em Londres e, depois, até 2016 competir muito e melhorar bastante.

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Na vida ela já venceu, agora é dar um passo a mais de cada vez. Pelo menos haverá uma pista novinha para ela treinar lhe esperando no Brasil em breve.