Atenção: pode conter spoilers.
Pouquíssimas coisas já me fizeram sentir e reagir tanto quanto nesse filme. “Spider-Man: No Way Home” é o terceiro e último filme da primeira trilogia do herói no MCU (Universo Cinematográfico Marvel) com Tom Holland no papel principal e Jon Watts como diretor. Quem me conhece sabe que eu fui extremamente chato com os outros dois filmes (Homecoming e Far From Home, principalmente este último) por como derivavam de toda a ideia do personagem.
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Para mim, fazer o protagonista se importar tanto para a “identidade secreta” como se liga para um segredinho de ensino médio, receber tudo e mais um pouco da melhor tecnologia existente no planeta para resolver seus problemas e não sofrer quase nenhuma consequência do fato de o protagonista ter de abandonar situações essenciais para buscar sua responsabilidade eram sinais de que quem estava no comando do filme não fazia a menor ideia do que significava o personagem e o fazia ser quem era – um dos maiores personagens fictícios de todos os tempos.
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Aí que surge a minha surpresa, porque “No Way Home” é uma carta de amor a todos os fãs do personagem. Apesar de um início um pouco corrido acerca das consequências de a identidade do personagem ter sido revelada, finalmente pudemos ver o inferno que é possuir um relacionamento e como é uma merda viver com Peter Parker. Por mais que isso pudesse ter sido mostrado de maneira mais casual em filmes anteriores, o Ned e a MJ não serem aceitos no MIT por simplesmente conhecerem o herói é uma ótima representação do que dava para ser feito.
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Foi rápida, mas a participação do Charlie Cox como Matt Murdock foi incrível e natural, fazendo referência até à vida dupla do personagem (o que eu não esperava) e me deixando com saudades de um dos melhores personagens de qualquer mídia de herói já feita, que é a série da Netflix.
Dizer que eu parecia uma criança é pouco perto do que eu sentia por dentro só de ouvir as vozes e trilhas sonoras dos vilões da perfeita trilogia de Sam Raimi. Na verdade, eu parecia uma criança desde o Demolidor ali em cima, mas isso não era nem perto do que eu ia experienciar pouco depois. Além de não conseguir parar de sorrir com qualquer interação que aqueles personagens tinham entre si – personagens que nunca imaginávamos interagir entre si, como Norman e Otto, Max e Flint etc. – fico feliz em como traduziram os arcos destes personagens, sem ignorar o Otto, que se sacrificou, ou o “esquizofrênico” e enganador Norman Osborn.
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Por mais que o filme pareça uma desculpa para trazer essas personagens de volta – não sendo tão natural assim no meio dessa história toda de identidade – ela até que funciona bem quando você se acostuma com ela. E, meu Deus, como não se acostumar com ela?
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Antes de eu comentar sobre “vocês-sabem-quens”, vale lembrar que eu estava em um cinema tão cheio (não de qualquer tipo de pessoa, mas cheio de nerds) que estava mais para um estádio. Depois de anos de pandemia, ouvir a paixão das pessoas por algo em forma de gritos, depois que tivemos que ouvir apenas os nossos, sozinhos, foi algo lindo de se ver.
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Chega, né? Vamos falar do que você e eu viemos falar: arrepiar é pouco quando se fala daquele momento em que o Homem-Aranha do Andrew Garfield passa por aquele portal e entra no MCU. Eu nem sabia mais se estava arrepiado até o fim do filme, porque acho que entrei em um plano astral de quem nem sabia se aquilo estava rolando mesmo. Ver o ator na mesma roupa de sua incompleta duologia, fazendo piadas, grudando no teto e tudo mais foi uma experiência que eu nem sei descrever. A partir daquele momento tudo que acontecia valia um beliscão no braço para saber se era real.
Tobey Maguire entra e o cinema grita. Já tem horas que eu vi o filme e, ainda assim, não parece que eu não estou inventando. Ouvir aquela voz de inocência que o ator traz para o personagem é reconfortante. Melhor ainda é a interação que ele tem tanto com o Andrew como com o Tom.
Diálogos que só pareciam realidade em outro multiverso como “Lançadores de teia? A teia de vocês não é orgânica?” ou “Eu não sei trabalhar em grupo – quem são os Vingadores? Uma Banda?” e entre outras coisas que eu poderia passar semanas assistindo aconteceram diante dos meus olhos. Numa dinâmica tão natural entre os três icônicos atores que devem ter marcas de sorriso na minha cara até agora.
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Sinceramente, quando eu penso nesses momentos tão simples entre personagens que amamos tanto, me dá vontade de parar de escrever essa “crítica”. Se ignora a CGI, as reclamações, as diferenças tanto entre os “Homens-Aranha” como da própria plateia. Surge um sentimento indescritível de que alguém poderia me dar um soco na cara que eu ia continuar sorrindo que nem bobo só porque o Homem-Aranha do Andrew Garfield acabou de estralar as costas do Peter Parker do Tobey Maguire. Quêê? Sério, nem eu acredito ainda que estou escrevendo isso.
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Cada Aranha aprende com o outro – sobre sentir o peso da responsabilidade, sobre perder pessoas no processo e não poder se colocar acima de tudo nas situações em que se enfrentam. De novo, os diálogos não são nada naturais na maioria das vezes, mas eu não poderia ligar menos para isso naquela hora.
Por mais que tenha achado um pouco forçado fazer a May dizer o “com grandes poderes” (e me questionado o que que o Tio Ben do Peter do Tom Holland disse para que ele virasse herói senão aquilo) achei essencial a morte da personagem para vermos uma versão mais bruta do personagem e, principalmente, reais consequências do que é ser tia do Homem-Aranha quando todo mundo sabe disso.
Pequenos momentos que eu não vou conseguir escrever sobre para não descrever o terceiro ato inteiro nisso daqui vão permanecer para sempre comigo: quando todos os Peters responderem “Sim?”, quando o Ned chama o nome deles no singular, o Peter do Andrew fascinado com o multiverso, o Tobey falando “vem grandes responsabilidades”, o Andrew salvando a MJ como ele não salvou a Gwen, entre outros milhares que liberaram mais seratonina do que meu corpo sabia que tinha.
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Por fim, o filme incrivelmente se fecha em algo que faz muito sentido e que eu achei incrível: o mundo esquecer quem é Peter Parker. Com o reinício da vida do personagem, sem tecnologias, independência e muitas consequências. Eu admito que paguei muito a língua quando reclamei de que quem estava no comando disso tudo não entendia do personagem. Um Peter mais maduro e pobre, vivendo de aluguel e tendo que costurar a própria roupa era tudo o que precisava para esse personagem realmente sentir como ele deveria ser.
Agora ninguém sabe sua identidade e ele vai lutar para que isso continue assim, para que ele não perca mais ninguém como perdeu a Tia May. Depois de uma experiência que eu não achei que ia viver para assistir, eu não sei se algum dia vou conseguir botar em palavras todos os sentimentos que tive com essa bagunça toda. Esse foi um gostinho.
*Por Antonio Carqueijó – estudante de Cinema na FAAP/ SP e apaixonado pela Marvel
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