Em novembro do ano passado, a Nasa celebrou o lançamento da missão Artemis 1 com o foguete SLS, então promovido como o mais poderoso do mundo em operação. De fato era. Mas pode perder a posição quando a SpaceX lançar pela primeira vez seu veículo Starship. O lançamento estava previsto para esta segunda-feira (17), mas foi adiado.

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A missão da Starship estava marcada para começar nesta manhã. Por volta de 10h20 (horário de Brasília), foi anunciado um adiamento por conta de e a nova data do lançamento ainda deverá ser anunciada.

Com 120 metros, o poderoso lançador de dois estágios é o maior foguete já construído em toda a história. Ao se propelir até a órbita terrestre, baterá todos os recordes de capacidade de transporte espacial, superando até mesmo o Saturn V, usado nos anos 1960 e 1970 pelo programa espacial americano para as missões lunares Apollo.

Tem mais: a ambição da SpaceX é que o sistema seja totalmente reutilizável, com os dois estágios (um propulsor, denominado Super Heavy, e a nave propriamente dita, Starship) capazes de pousar de forma autônoma.

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Para o voo inaugural, contudo, as ambições são muito mais modestas: ao estilo estabanado de Elon Musk (fundador e CEO da SpaceX), a empresa estará satisfeita se o gigante conseguir deixar a plataforma de lançamento em segurança. Tudo que vier depois é tido como lucro pelos engenheiros envolvidos no projeto.

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Para a lua e além

O programa Starship nasceu como iniciativa independente da SpaceX, e com outro nome: Interplanetary Transport System. Trata-se do sistema com o qual Elon Musk espera um dia promover a colonização de Marte.

Para isso acontecer, o custo de cada lançamento precisa cair drasticamente, o que só é possível se os veículos forem baratos, reutilizáveis, dispensarem grande manutenção entre voos, possam ser reabastecidos no espaço e sejam capazes de usar combustível facilmente produzido no planeta vermelho.

Foram esses os requisitos que nortearam a concepção do Starship: um veículo enorme, com nada menos que 33 motores no primeiro estágio (o maior número já usado em um um foguete), movidos a metano e oxigênio líquidos. Isso porque é simples produzi-los a partir de água e dióxido de carbono, dois recursos naturais fartamente disponíveis em Marte.

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Parecia mais um delírio de Musk. Até que a própria Nasa começou a acreditar. Ao definir que faria a aquisição de um módulo de pouso tripulado para o programa Artemis por meio de concorrência, a agência acabou optando pelo programa Starship, deixando para trás designs mais conservadores (como o da Blue Origin, de Jeff Bezos) e empresas mais tradicionais (como a gigante Boeing).

A essa altura, o Starship já está contratado para fazer as alunissagens das missões Artemis 3 e 4 (a um custo de US$ 4,05 bilhões), o que significa dizer que não haverá astronautas caminhando na Lua tão cedo se o projeto da SpaceX fracassar. É uma aposta de alto risco da Nasa, com benefícios proporcionalmente altos em caso de sucesso.

O veículo poderá transportar mais de cem toneladas até a superfície lunar -algo como levar um Boeing 747 com a área de carga cheia. Isso tornaria a construção de uma base da Lua um processo muito mais simples.

Na prática, mudaria todas as regras do jogo na exploração espacial. Até hoje, o esforço é sempre o de fazer satélites e cargas úteis tão pequenos e leves quanto possível. Lembra como o Telescópio Espacial James Webb, com seu espelho segmentado de 6,5 metros, teve de ir todo dobradinho dentro da coifa do foguete Ariane 5? No Starship, com um diâmetro de 9 metros, você pode acomodar um espelho bem maior que o do Webb — e sem dobrá-lo.

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Uma série de outras aplicações poderiam se tornar possíveis, como transporte de pessoas e carga ponto a ponto em qualquer lugar da Terra em menos de uma hora. O Pentágono, por sinal, está de olho no Starship como possível transporte para suas operações militares.

Contudo, será preciso que o veículo funcione como propagandeado. E tudo começa com este primeiro teste. Na melhor das hipóteses, veremos o primeiro estágio decolar, concluir seu trabalho de ascensão, se separar do segundo estágio e descer para um “pouso” na superfície do mar, no golfo do México.

A SpaceX não tentará recuperá-lo, mas quer treinar a capacidade de manobrá-lo para futuros pousos em solo.

O segundo estágio então usará seus motores (são três para propulsão no espaço e outros três para manobras na atmosfera) para atingir velocidade orbital, dar quase uma volta inteira em torno da Terra e então reentrar na atmosfera, fazendo um mergulho em alta velocidade no mar, próximo ao Havaí.

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Se tudo isso der certo, ou se pelo menos o Starship atingir a órbita, a SpaceX poderá dizer que tem o foguete mais poderoso já lançado na história da exploração espacial.

*Por Salvador Nogueira