Meninas entre 9 e 14 anos postam vídeos on-line perguntando se são feias ou bonitas. A moda acaba de chegar ao Brasil e já ganha seguidoras. A ideia é ter a opinião alheia para sua aparência, suas roupas, seu corte de cabelo, por meio de críticas e elogios. As avaliações surgem nos comentários do vídeo e em número de like ou dislike.

Continua depois da publicidade

Os vídeos normalmente mostram depoimentos de autodescrição ou somente fotos com um fundo musical. O que surpreende nesse mundo virtual, onde trollada virou “bom dia”, é a razão pela qual as meninas querem ser avaliadas. Falta de autoconfiança? Ou autoestima? Curiosidade? 2 minutinhos de fama?

As exposições no YouTube lembram a famosa frase da madrasta da Branca de Neve: “Espelho, espelho meu: existe alguém mais bonita que eu?” Então, Youtubers, existe?

Your image is loading...

Nós entrevistamos o psicólogo clínico Gustavo Fritscher Lopes por e-mail sobre esse fenômeno. Perguntamos o que ele pensa sobre esses vídeos e se essa é uma nova maneira de nos relacionarmos com os outros. A resposta você confere na íntegra:

Continua depois da publicidade

Este fenômeno reflete, de uma nova maneira, a não tão nova busca do adolescente por aprovação. A diferença é que agora temos uma diminuição no contato interpessoal, devido aos novos meios de exposição; ou seja, as adolescentes produzem uma imagem de si mesmas (vídeos, fotos, etc.), que é lançada em um campo virtual, e é esta que entra em relação – e não a própria pessoa.

A exposição ao contato humano é, portanto, muito diminuída, assim como os benefícios que daí poderiam advir – por exemplo, o reconhecimento de si em relação ao outro e a contextualização deste contato em um mundo real.

Seres humanos necessitam de contato real para o desenvolvimento de suas potencialidades, e os contatos virtuais por vezes promovem a diminuição desta realidade.

É algo ainda muito novo para ser tratado como uma tendência, ou uma moda, ou algo que veio para ficar. Talvez, até mesmo, logo diminua em sua incidência, pois a gratificação de relações superficiais tende a não ser satisfatória.

Continua depois da publicidade

Neste contexto, é importante que os pais dialoguem o máximo que puderem com seus filhos, tentando reconhecer e acolher as necessidades que estes expressam em seus comportamentos, tais como este. O diálogo aberto e amoroso ainda é a melhor opção.