Sônia Hess de Souza, 60 anos, nunca havia entrado em um presídio. Em fevereiro deste ano, visitou a Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), em Nova Lima, no interior de Minas Gerais. Ficou encantada com o que viu:

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— Era tudo limpo, organizado, não tinha cheiro nenhum, muito diferente do que eu imaginava. E dava para ver que eles tinham esperança de voltar à vida normal — conta.O convite para a visita partiu da doutora em administração e amiga de Sônia, Betania Tanure.

Ao longo de um dia, a empresária e outras 40 mulheres viram na prática como funciona um presídio em que os apenados trabalham, cozinham e limpam as dependências. O modelo, que é referência no país, tem 40 unidades em Minas Gerais. Depois de conhecer o lugar, a catarinense tomou para si uma nova bandeira: trazer a Apac para seu Estado natal.

— Por lá, o sistema deu certo porque os empresários abraçaram a causa. Fico triste de ler notícias ruins sobre Santa Catarina. Quero trazer o modelo para cá — explica, sem deixar de acrescentar que a taxa de recuperação de apenados é de 85% e o custo para o Estado é apenas um quarto do presídio tradicional.

Da instalação de modelos de penitenciárias mais justos à promoção do empoderamento feminino — as bandeiras de Sônia são múltiplas. Depois de 12 anos como executiva da maior fábrica de camisas da América Latina, a Dudalina, ela se tornou um empreendedora pelo Brasil. Desde maio do ano passado, quando deixou a presidência da empresa, a catarinense tem uma nova missão:

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— Eu sou acima de tudo cidadã brasileira. Agora tenho tempo para me dedicar a outros projetos. Precisamos exercer cidadania, ajudar a melhorar o país em que vivemos.

Sônia deixou a companhia quando a Dudalina foi vendida para o grupo Restoque, dono das grifes Le Lis Blanc, Bo.Bô, John John e Rosa Chá, em 2014. Hoje, ela é consultora da empresa internacional de private equity Warburg Pincus, onde mantém uma sala de trabalho, em São Paulo.

Além disso, se desdobra na atuação no terceiro setor com grupos voltados para causas sociais, como o Mulheres do Brasil, e a mentoria do programa Winning Women, de apoio ao empreendedorismo feminino, promovido pela Ernst & Young, entre outros projetos. A catarinense garante que a vida segue agitada e que tem aprendido muito:

— Estou conhecendo coisas novas com o terceiro setor. É impressionante o trabalho que essas pessoas fazem. Sem elas, o Brasil estaria perdido — afirma.

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Filha de Rodolfo Francisco de Souza Filho (o seu Duda) e de Adelina Clara Hess de Souza, o casal que fundou a Dudalina em 1957, ela sempre soube o valor do trabalho. Sexta filha em uma família com 16 irmãos – cinco mulheres e onze homens –, habituou-se a ajudar a mãe a vender na loja e a cuidar dos menores. De trás do balcão, Sônia foi crescendo na empresa até chegar à presidência. Foi ela a responsável por um crescimento anual de 30% da marca desde 2009. Em 2013, foi eleita a sexta mulher de negócios mais poderosa do Brasil pela revista Forbes.

— Costumo dizer que nasci dando lucro.

Agora, longe da rotina da Dudalina, depois de 31 anos de trabalho em diferentes funções da companhia, ela quer aproveitar o tempo livre com a família. Diz que pretende fazer uma semana de compromissos só de terça à quinta-feira, mas está difícil.

— Às vezes, consigo deixar a sexta-feira livre. Além do trabalho social, ela gosta mesmo é de estar com a família, os amigos e cozinhar. Casada com o empresário João Miranda, sempre manteve residência em São Paulo.

A vida, nas últimas décadas, ficou dividida entre a capital paulista e Blumenau – onde se hospedava sempre no mesmo hotel. Agora, tem visitado muito pouco o Estado natal. Em São Paulo, está perto dos cinco netos — filhos das enteadas, que ela trata como filhas. E apesar da trajetória de sucesso nos negócios, Sônia não pensa em empreender novamente:

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— Não tenho nenhuma vontade. Agora, quero só retribuir o que recebi. E cuidar das flores do jardim da minha vida.