Um trajeto de 240 quilômetros concluído em 10 dias. Enquanto para muitas pessoas o desafio pode ser motivado por uma promessa ou oportunidade de encontro com a própria fé, a blumenauense Claudia Casemiro decidiu encarar a viagem depois de receber um convite que não poderia ser recusado. Através de um sonho, Nossa Senhora de Lourdes a chamou para conhecer o Caminho do Louvor, de Ituporanga a Nova Trento, e a peregrina sequer questionou o pedido.

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Era o início de uma nova jornada.

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Aos 50 anos, Cau, como é carinhosamente chamada, conta que a Santa já havia aparecido outras vezes enquanto dormia, mas só foi identificá-la ao procurar na internet pelas características que ela tinha. O manto branco e azul, junto a um rosário, ajudaram no reconhecimento da mulher.

— Eu sonhei duas vezes com uma Santa aparecendo para mim com o rosário na mão. E eu achava que fosse Nossa Senhora do Rosário […] Aí em uma terceira vez, ela aparece novamente e me diz que está me esperando no Caminho. Então isso foi muito emocionante — comenta.

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O Santuário de Nossa Senhora de Lourdes fica, justamente, em Ituporanga, onde inicia o Caminho do Louvor, trajeto de cunho bastante religioso e que segue até o Santuário Santa Paulina, em Nova Trento. Cau concluiu o trajeto de mais de 200 quilômetros na última quinta-feira (15), sozinha.

Ela ressalta o acolhimento que sentiu durante o percurso, principalmente das pessoas que vivem na região e a receberam de braços abertos. Foi nesse local, também, que Claudia teve a ideia de iniciar um projeto piloto para arrecadar roupas e alimentos aos mais necessitados.

Registro de uma das peregrinações de Cau (Foto: Arquivo pessoal)

Como Cau já é ligada ao trabalho voluntário em Blumenau, ela decidiu unir a ação social com a peregrinação e, em 5 de agosto, vai organizar uma caminhada de 10 quilômetros na Vila Itoupava. No trajeto, um carro também irá acompanhar os participantes para fornecer mantimentos até o fim do percurso.

— Eu digo que o Espírito Santo age nesses pensamentos que vem para a gente. Então eu decidi juntar essas duas coisas que já fazem parte da minha vida — conta.

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As inscrições são limitadas e podem ser feitas através da doação de uma cesta básica ou mediante o pagamento de R$ 80. O valor será revertido em doações para ajudar quem mais precisa. Outras informações sobre o projeto ainda serão divulgadas pelas redes sociais.

O início da jornada na peregrinação

Moradora de Blumenau há 12 anos, Cau atuou como contadora por mais de duas décadas. Tudo mudou, no entanto, quando ela fez uma longa peregrinação em 2019. Por influência da mãe, Acyres Zunino Casemiro, que também é uma mulher de muita fé, Claudia decidiu conhecer o Caminho de Santiago de Compostela, que vai da França até a Espanha.

O percurso também foi feito por dona Acyres há cerca de 20 anos e a experiência acabou inspirando a filha.

— Como eu trabalhava no corporativo, eu não tinha a possibilidade de tirar esse tempo porque lá são 830 quilômetros e eu caminhei por 32 dias. Então eu acabei postergando e, quando eu saí do corporativo e me tornei terapeuta, aí comecei a fazer a minha agenda e pude me propor a realizar esse sonho — explica.

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Apesar de ser corredora nas horas vagas, Cau nunca havia participado de uma peregrinação daquelas proporções. A partir da experiência vivida, no entanto, ela sabia que precisava compartilhar com outras pessoas a importância da caminhada religiosa.

Claudia já atuava como Terapeuta Holística desde 2017 e percebeu que a peregrinação poderia ajudar na reflexão sobre a vida. Ela começou a fazer lives e workshops sobre o tema nas redes sociais e, quando viu, já tinha conseguido reunir o primeiro grupo para participar do Circuito Vale Euroupeu, em Santa Catarina.

Cau no Caminho de Santiago de Compostela, em 2019 (Foto: Arquivo pessoal)

Com isso, em 2021, Cau se tornou condutora de peregrinos e, em menos de 2 anos, o projeto ganhou uma dimensão que ela não imaginava. Hoje, Claudia conta que leva, no mínimo, um grupo por mês para fazer a caminhada por diferentes rotas. No total, já foram 168 pessoas que ela conheceu através da fé e que vieram de todos os lugares do mundo.

— Para fazer uma peregrinação, mesmo que não seja católico, porque quando falamos em fé não nos referimos só a religião católica, mas precisa de um propósito. É muito forte — ressalta.

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Ligação com a fé que vem de família

Quando percorreu os 830 quilômetros do Caminho de Santiago de Compostela, na Europa, Cau conta que fez questão de ir nos mesmos lugares que dona Acyres, que também andou pelo local. A ideia era tentar repetir os passos da mãe, uma mulher também de muita fé e que vive atualmente em Balneário Camboriú, junto com o restante da família.

— Meu pai faleceu quando eu tinha 4 anos. E eu lembro que desde essa época a minha mãe só saía de casa para ir na igreja ou no mercado. Ela nos criou com a costura e é ministra da igreja até hoje, com 86 anos — conta Cau.

As duas já fizeram, inclusive, uma peregrinação juntas. Como Cau e a mãe têm uma ligação forte com Madre Paulina, elas concluíram um trajeto de Itajaí até Nova Trento, uma ao lado da outra. A lembrança ficou guardada na memória de Claudia porque, naqueles dias, foi feito um pedido especial para a Santa.

Na época, Cau estava desempregada e aproveitou o momento para compartilhar uma das preces com a religiosa. A surpresa veio logo no dia seguinte e mãe e filha comprovaram a famosa frase que diz que “a fé move montanhas”.

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— Fizemos a peregrinação no sábado e domingo. Na segunda-feira me chamaram para trabalhar — relembra.

Cau e a mãe no Santuário Santa Paulina, em Nova Trento (Foto: Arquivo pessoal)

Propósito de transformar a vida do outro

Quando teve a vida transformada pela primeira peregrinação, Cau estava disposta a levar essa experiência para outras pessoas. Isso porque a caminhada não é um mero exercício físico. O objetivo é contemplar também a paisagem e se desconectar do “mundo real”.

Ela ressalta que, no caso dela, os participantes que aceitam o desafio geralmente não se conhecem. Diferentes histórias se cruzam no momento do encontro e isso, de acordo com a condutora, torna a vivência ainda mais enriquecedora.

— Eu saí do corporativo, por exemplo, porque eu estava vendo que adquiria as coisas sem poder usufruir daquilo porque só trabalhava. Então a maioria das pessoas que vem é intenso e, às vezes, até doloroso, porque no caminho elas começam a refletir ‘o que eu estou fazendo da minha vida? Por que estou correndo tanto?'” — explica.

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Durante a peregrinação, Cau ressalta que a única preocupação dos participantes é a caminhada e que, ao sair da correria do dia a dia, as pessoas têm a oportunidade de refletir mais sobre si mesmas. Algumas percebem, por exemplo, que não se encaixam em determinado emprego ou que, precisam, de fato, mudar enquanto ser humano.

Uma transformação que faz todo o esforço de Cau valer a pena.

— Para mim, o maior ganho é ver as pessoas voltando para casa melhores — finaliza a peregrina.

A blumenauense conduz peregrinos por rotas em SC e no RS (Foto: Arquivo pessoal)

*Estagiária sob supervisão de Augusto Ittner

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