Sonhar é verbo animado pelo inconsciente freudiano, todo ser humano sonha – e, por sonhar, o brasileiro ainda não paga IOF ou o novo ISSA, o “Imposto sobre os Sonhos Antigos”.

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Sonhei em technicolor, cinemascope, som dolby-stereo como nos melhores filmes. E nesta minha sessão de cinema passou um filme bonito: o Brasil de primeiro mundo. Sonhei que todos os ladrões de colarinho branco haviam se condoído dos menos favorecidos e doado suas fortunas – mal havidas – para as classes miseráveis.

Os muito ricos fizeram fila para doar metade dos seus bens à população menos abonada. Acredite ou não: o gesto chegou a tocar o próprio Mahatma Gandhi, de plantão no observatório celestial, lá das arquibancadas do firmamento.

Sonhei que os países do Hemisfério Norte, que sempre gastaram o que já não tinham, começaram finalmente a pagar suas contas, sem transferir a crise dos ricos para a Grécia ou para os pobres do terceiro mundo.

No meu sonho, isso acabou. Sonhei que o dólar – para horror dos exportadores – havia recuado para R$ 1,00 e que, diante de tal incentivo, a brasileirada foi comemorar no Central Park, em Nova York, esticando depois no River Café, o restaurante do Brooklyn – que vem a ser o Estreito da Big Apple e de onde se divisa o skyline da capital do mundo.

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Melhor do que aquela Nova York do meu sonho, só a Florianópolis de primeiríssimo mundo. Sem engarrafamentos, sem favelas e sem agressões ambientais. Sonhei que o mundo estava mais compreensivo e generoso, e que Floripa revivia os seus tempos de província. Convém lembrar que, em meu sonho, corria o ano da graça de 1960 e o único – e digno – Senado era o que se estabelecia na esquina da Felipe Schmidt com a Trajano, no plenário do Ponto Chic, mais conhecido como “Senadinho”.

Machado de Assis se valia de um remédio mágico para combater a penúria financeira em tempos de crise. “Ganhava pouco e não gastava muito”. Suas grandes despesas eram imaginativas:

“O reino dos sonhos era a minha casa da moeda”.