* Por Sabrina Quariniri, especial para "AN"
Em torno de 6,6% do montante de lixo produzido em Joinville é reciclado atualmente. Das 11.261 toneladas mensais de resíduos recolhidos pela Ambiental – empresa que opera o serviço de coleta de lixo na cidade –, apenas 779 toneladas são qualificadas para reutilização. E uma das principais dificuldades de ampliar a coleta seletiva são as atividades clandestinas, que acabam ocultando até mesmo o número real do lixo que é produzido.
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Marco Antônio Ávila, gerente Regional da Ambiental, ressalta que os números de recolhimento de materiais recicláveis vêm caindo mensalmente por interferência direta das coletas não oficiais, e garante que a geração de lixo e triagem residencial desses resíduos são bem maiores, mas acabam não chegando ao destino final, que são as cooperativas de reciclagem.
Pelo menos 35% de todo o resíduo produzido em qualquer residência poderia ser reciclado, segundo Ávila. Por isso, o potencial de aumento da coleta seletiva em Joinville é grande.
– É fundamental um estudo mais aprofundado sobre o assunto, além da necessidade de coibição ou regulamentação das coletas não oficiais.
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Ávila diz que o maior problema não está nem na coleta clandestina em si, mas na destinação final que é dada aos rejeitos que não são aproveitados por não possuírem valor comercial e que, muitas vezes, acabam sendo jogando em terrenos baldios e rios da região.
O gerente regional da Ambiental lembra que a população pode ajudar a alcançar um número maior de reciclagem. Basta fazer a triagem correta do lixo, lavando os resíduos que possam conter nas garrafas PET, por exemplo, para não contaminar outros reciclados, e observar corretamente os horários da coleta oficial.
Como funciona o serviço
A empresa Ambiental é a responsável por fazer a coleta dos resíduos que são separados pelas pessoas. Ela tem um cronograma de dias e horários para passar nas ruas da cidade com os caminhões. Esses veículos recolhem todo o material e levam para seis cooperativas de recicladores que são cadastradas na prefeitura e hoje atuam em Joinville.
As cooperativas têm espaços onde recebem os resíduos, fazem a separação de todo o material e depois compactam para fazer a reciclagem. Ao final desse processo, o material é vendido pelas cooperativas para empresas interessadas.
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O lucro dessas vendas é usado para manter o negócio das cooperativas, como o pagamento de aluguel do galpão – no caso daquelas que não têm um espaço próprio. O valor que sobra é dividido entre todos os cooperados. É dessa forma que muitas famílias conseguem uma renda mensal na cidade.
A queda na coleta de resíduos recicláveis em Joinville impacta diretamente as famílias que têm essa atividade como principal fonte de renda. Suelen Rodrigues Moreira, de 29 anos, trabalha na cooperativa Recicla, no bairro João Costa, há seis anos. Ela mora na casa do pai, de 55 anos, que também trabalha no local. O salário dos dois – que varia conforme o mês – é destinado a sustentar a família, que é composta pelos filhos de Suelen, de quatro e cinco anos, e mais um irmão.
– Por mais que eu não pague aluguel, tenho gasto com as crianças que vão para creche, com roupa, remédio e comida para eles. Algumas contas acabam atrasando – conta.
Suelen explica que, no inverno, o rendimento é menor, pois, além de não ter muito material, o preço dos recicláveis diminui. Além disso, de 40% a 50% dos resíduos que são levados para a Recicla são descartáveis. Por mais que sejam feitas campanhas constantes de conscientização da população, muita coisa indevida acaba sendo jogada no lixo reciclado.
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– Vem fraldas descartáveis e resto de comida, por exemplo.
Anderson Ramalho da Silva, coordenador da cooperativa Recicla, reforça que os melhores meses de rendimento das famílias é na temporada de verão. Em Joinville, segundo ele, há seis galpões de reciclagem regulamentados pelo município. Na opinião dele, a reciclagem clandestina acaba afetando muito o faturamento das famílias que vivem disso.
– Os clandestinos passam antes e acabam pegando os produtos de maior valor.
Anderson lembra da importância de a população separar e lavar corretamente os recicláveis. Ele diz que, se algum material estiver com resíduos de sujeira e for jogado no caminhão junto aos outros, acaba contaminando todos e diminuindo o valor dos materiais.
Para ajudar na conscientização da população, o Recicla firmou uma parceria com o Centro de Referência da Assistência Social (Cras) do bairro Paranaguamirim. Para lá serão levados tambores de lixo para recolhimento de materiais eletrônicos e outros tipos de resíduos das escolas do bairro. O propósito é gerar renda extra para as famílias que sobrevivem do trabalho de reciclagem.
– O intuito da cooperativa é a geração de empregos e a inclusão social – salienta Anderson.
Lei para coibir clandestinos
Um Projeto de Lei que visa coibir a ação clandestina na coleta seletiva de Joinville foi encaminhado para a Câmara de Vereadores no início deste ano. Para regulamentar esse trabalho, segundo Ana Luiza Rizzati, gerente de limpeza urbana do município, demandaria treinamento dos profissionais e equipamentos, pois trata-se de um serviço que possui certos riscos para a saúde.
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Com a regulamentação da lei, os locais em que as coletas clandestinas ocorrem seriam fiscalizados. A coibição desse ato também funcionaria por meio de denúncia dos moradores. Outra estratégia utilizada pelo município é a educação ambiental.
O que vale a pena fazer
Separar o lixo seco do orgânico. Restos de alimentos ou um copo de cafezinho podem inutilizar quilos de papel limpo e reciclável. Lavar as embalagens para tirar o excesso de alimentos e dos produtos de higiene e limpeza é sempre válido. Um banho de água suja mesmo resolve o problema.
O que não vale a pena fazer
Separar o lixo seco por tipo de material. Essa separação será feita na cooperativa de reciclagem. Portanto, pode misturar o lixo seco sem preocupações. Também não adianta amassar latas de alumínio e garrafas PET ou desmontar embalagens longa vida, pois isso não encurta o processo de reciclagem.
Lâmpadas
Separe as fluorescentes em um lixo à parte. Misturados aos outros restos, os cacos costumam ferir os catadores. Já as lâmpadas incandescentes não são recicladas. Elas devem ser depositadas no lixo comum.
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Cacos de vidro ou espelho
Embale em jornal e coloque em lixo separado. O material seguirá para vidraçarias e não para as fábricas que reciclam vidro.
Baterias
São recicláveis apenas as baterias de telefones sem fio, filmadoras e celulares. As outras, assim como as pilhas, têm baixa concentração de metais pesados e por isso não são consideradas prejudiciais ao meio ambiente. Para reciclar, coloque as baterias em um lixo separado, pois são frágeis e podem se romper.
O grande vilão
O óleo de cozinha é nocivo ao meio ambiente. Quando jogado no ralo da pia, é levado para rios e mares. Um litro dele polui até 1 milhão de litros de água. Para ser reciclado, deve ser colocado em garrafa PET bem vedada e entregue a organizações especializadas nesse tipo de reciclagem. Pode ser usado na produção de sabão e de biodiesel.
Metal
Sim
Latas de alimentos e bebidas, tampinhas, arames, pregos, fios, objetos de chumbo, cobre, alumínio, bronze, ferro, zinco e latas de tinta imobiliária vazias.
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Não
Embalagens de aerossol, esponjas de aço, clipes, grampos e tachinhas.
Vidro
Sim
Garrafas, potes, jarros, vidros de conserva, de produtos de limpeza, frascos em geral.
Não
Cristais, lâmpadas fluorescentes, espelhos, vidros de janelas e automotivos, tubos de TV.
Plástico
Sim
Garrafas, tubos, potes, frascos, baldes, bacias, brinquedos, isopor (EPS), canos, saco de leite, embalagens laminadas.
Não
Tomadas, cabos de panela, embalagens metalizadas (como as de salgadinhos), filme plástico.