As areias da Praia Brava, em Itajaí, começam a sentir os efeitos da recente onda de verticalização. Ao cair da tarde, a praia é parcialmente tomada pela sombra dos edifícios que se erguem pela orla _ fenômeno que já ocorre na vizinha Balneário Camboriú, onde a silhueta dos arranha-céus esconde o sol. Resultado do despertar da construção civil para as belezas da Brava, a sombra preocupa moradores e ambientalistas, que temem mudanças na vocação turística da praia.

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_ A Brava está crescendo cada vez mais rapidamente, e a percepção que se tem é que possa se tornar uma nova Balneário Camboriú _ diz o oceanógrafo Rodrigo Cavaleri Gerhardinger. Não que a vizinha Praia Central não tenha seus encantos. Mas a badalação e o movimento de Balneário diferem da tendência da Brava ao surfe e a uma proposta de maior contato com a natureza.

_ A Brava não precisa ficar parecida com praia nenhuma, porque já é bonita por natureza. Por isso a sombra é uma preocupação, sim _ diz a secretária de Turismo de Itajaí, Valdete Campos.

Embora o plano diretor vigente não permita prédios com altura maior do que dois pavimentos além do térreo na quadra do mar, muitos construtores beneficiaram-se do Plano de Desenvolvimento Turístico, Econômico, Ecológico e Socialmente Sustentável (Plandetures), aprovado em 2007 e revogado pela Justiça em novembro deste ano. As regras permitiam que os construtores aumentassem a altura dos edifícios em troca do pagamento de recursos, que eram investidos no bairro.

Restrição

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Hoje, a lei restringe as construções à beira do mar na Brava a térreo mais dois andares. Mas, de acordo com a Secretaria de Planejamento, há pelo menos uma construção com nove andares para sair, aprovada antes da revogação do Plandetures. Além da sombra na areia, de acordo com a assessora da Associação de Voo Livre Morro do Careca (AMCA), Daniela Occhialini, a altura dos prédios restringe os voos de parapente _ atividade tradicional na Brava.

_ Prédios altos são ruins para o voo e para o turismo. É um absurdo que isso ocorra na praia, que é um bem público _ diz.

Câmara vota novo plano diretor

Uma sessão extraordinária da Câmara de Vereadores ocorre hoje, a partir das 16h, para a segunda votação da lei de zoneamento de Itajaí. A lei define regras para uso e ocupação do solo _ entre elas, parâmetros para a aprovação de novos projetos na Praia Brava.

_ A nova lei qualifica as obras, diminui a taxa de ocupação na Brava e estabelece que os apartamentos tenham mais de 90 metros quadrados. Desta forma, diminui o adensamento _ afirma o secretário de Planejamento, Paulo Praun Cunha Neto. Presidente da Câmara, o vereador Luiz Carlos Pissetti (DEM) diz que a data escolhida para a votação foi em função do prazo regimental exigido após a primeira apreciação do projeto _ que ocorreu em 21 de dezembro. A lei de zoneamento foi aprovada na primeira sessão com cinco emendas de redação, propostas pelo grupo de especialistas que acompanhou as audiências públicas representando os vereadores, e negociadas com o Conselho Gestor e o Ministério Público.

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Comunidade se mobiliza para proteger o Morcego

A preocupação com o futuro do Canto do Morcego e as novas regras que valerão após a aprovação da nova lei de zoneamento levaram à elaboração de um abaixo-assinado na internet. Até sexta-feira, mais de 2,8 mil pessoas já haviam aderido. Um dos organizadores do manifesto, o oceanógrafo Rodrigo Cavaleri Gerhardinger diz que as audiências públicas foram pouco divulgadas, o que gerou dúvidas quanto às mudanças de regras no local.

_ Ninguém sabe direito o que tá sendo proposto. Um plano diretor não pode ser votado às pressas e a toque de caixa _ afirma. Secretário de Planejamento de Itajaí, Paulo Praun Cunha Neto garante que a nova lei de zoneamento proposta é mais restritiva que a anterior _ e não permite, por exemplo, construções na primeira quadra da praia na área do Morcego.

_ Nas audiências chegou-se a propor aumento de andares e de coeficientes, mas o conselho não aprovou. Além disso, não é porque a construção é permitida, pela lei de zoneamento, que ela pode ser feita. Depende também de licença ambiental _ afirma o secretário.