A autoproclamada república da Somalilândia, ao norte da Somália, celebrou nesta quarta-feira o 25º aniversário de sua independência, com uma mistura de orgulho por seu excepcional êxito em uma região gangrenada pelo islamismo e de frustração pela falta de reconhecimento internacional.

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Nenhum representante estrangeiro assistiu aos festejos na capital, Hargeisa, durante os quais o presidente Ahmed Silyano se dirigiu a uma multidão coberta da cabeça aos pés de verde, branco e vermelho, as cores nacionais.

“Não se iludam, nunca voltaremos a estar juntos”, afirmou Silyano dirigindo-se às autoridades da Somália. “Sejamos dois países distintos e vizinhos pacíficos”, propôs o dirigente desta “república” semidesértica de cerca de 4 milhões de habitantes, na parte norte do “Chifre da África”.

Policiais, militares e membros do poder judiciário desfilaram durante três horas frente ao palácio presidencial. Uma demonstração de força por parte de um Estado que conseguiu administrar e proteger seu território com mais eficiência que o Estado da Somália, que conta sem problemas com ajudas muito superiores da comunidade internacional em matérias de desenvolvimento e segurança.

A Somalilândia, com uma superfície um pouco maior que a da Nicarágua ou Grécia, tem se mantido a salvo dos atentados que afetam seu país vizinho e exibe uma relativa segurança e um regime democrático que se mantém de pé, mesmo com os repetidos adiamentos das eleições gerais.

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O governo administra um orçamento de 250 milhões de dólares e emite sua própria moeda, o xelim da Somalilândia, mas tem acesso proibido aos créditos do Banco Mundial do FMI, que lhe permitiriam desenvolver suas infraestruturas.

O preço de não representar riscos?

“Nos castigam por termos tido tanto sucesso”, afirma o ex-ministro de Relações Exteriores da Somalilândia Abdilahi Duale. “Se fôssemos um estado quebrado, com delinquentes, terroristas e provocadores de problemas, todo o mundo viria nos ajudar”, acrescenta, em referência à situação da Somália.

“Não somos a Somália. Nosso nome é Somalilândia! Temos que ser reconhecidos”, afirma Ashira, uma jovem, próxima do memorial da guerra de independência coroado por um caça soviético MiG, em memória aos sobreviventes dos bombardeios que devastaram Hargeisa em 1988, por ordem do presidente Mohamed Siad Barré.

A região se declarou independente três anos depois, após a queda do regime de Barré e de massacres e bombardeios que deixaram ao menos 35.000 mortos.

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Os pedidos de reconhecimento, no momento, dormem nas gavetas das chancelarias. A União Africana, que alega seu apego ao princípio da “intangibilidade das fronteiras”, ignorou em 2005 um informe favorável às chamadas da Somalilândia.

Os países ocidentais também se mostram pouco favoráveis a qualquer mudança. “Temos muitos interesses na África e não queremos irritar os países do continente. Só reconheceremos a Somalilândia se antes for feito pela União Africana”, afirma Alain Peloux, um ex-diplomata francês na região.

Alguns responsáveis advertem que a estagnação de um país com 70% de desemprego dos jovens, situado frente à Península Arábica, poderia oferecer um terreno favorável à expansão de um grupo islâmico extremista.

“A situação está mudando”, lamenta o dirigente de uma associação, preocupado com a influência crescente de países do Golfo que financiam mesquitas, escolas privadas e alguns serviços humanitários.

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