Bianca Ruschel Hillmann conhece os dois lados da história de se tornar mãe em plena pandemia de coronavírus: ginecologista e obstetra, ela ainda trabalhou por alguns meses em hospital e clínica no início da pandemia, antes de engravidar. E, no papel de médica, começou a observar os impactos que o novo cenário trouxe à rotina das mulheres grávidas e mães recentes.
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— Acho que o que mais incomoda as pacientes é a questão do acompanhante: no SUS, no início da pandemia, as mulheres não podiam ter nenhum acompanhante durante a internação, e é muito ruim ter que passar pelo parto sozinha.
— Existem vários estudos que mostram que o melhor método de analgesia para o parto é se sentir acolhida, é ter companhia. O número de mulheres pedindo por cesárea em meio ao parto normal, no desespero da dor, chega a ser maior quando elas estão sozinhas – explica Bianca.
As diretrizes mudaram depois de algum tempo: as mulheres passaram a poder fazer o parto acompanhadas, mas o acompanhante só pode ficar no hospital até o nascimento do bebê – e, depois, vai embora, deixando mãe e criança sozinhas durante o restante da internação.
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— A mãe às vezes fica um ou dois dias sozinha com o bebê na enfermaria, o que também é bem ruim. E é ruim até para a equipe de enfermagem, porque normalmente os acompanhantes ajudam muito com o bebê, a dar banho e tudo mais.
— É bem difícil principalmente no caso das cesáreas, porque a mãe não consegue trocar uma fralda, nada disso, e as equipes de enfermagem estão bem sobrecarregadas —relata a médica.
Bianca conta que a procura pelo parto domiciliar cresceu desde o início da pandemia, em função do medo das mulheres em contrair a Covid-19 durante a internação.
Planejando ser mãe desde 2018, Bianca descobriu que estava grávida em junho de 2020, e ainda continuou trabalhando na maternidade por algum tempo – mas diz que começou a ter muito medo de se contaminar, especialmente ao passar a atender casos graves de mulheres grávidas que contraíram o coronavírus e precisaram ser internadas na UTI.
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Assim, comunicou a gravidez e passou a trabalhar no setor administrativo.
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Durante a gravidez, o que mais incomodou Bianca foi o fato de que o marido, Leandro, não pôde acompanhá-la nos exames e ultrassons, o que costuma ser um momento marcante para os pais.
– Também não pudemos fazer chá de fralda – lembra a médica.
– Uma coisa que pensávamos em fazer, mas não pudemos, era uma viagem: sabemos que com criança é mais complicado, então queríamos ter feito uma “despedida” de viagens por alguns anos; ou durante a gravidez, ou com o bebê nos primeiros meses, que é uma época mais tranquila. Mas claro que não conseguimos – completa ela.
Na 32ª semana de gravidez, Bianca e o marido foram pegos de surpresa por um ultrassom que mostrou que o filho, Eduardo, ainda estava muito menor do que deveria ser àquela altura:
– Detectamos com um ultrassom com doppler, que avalia o que a placenta está passando para o bebê, que ele não estava recebendo oxigênio e nutrientes adequadamente. Assim, antecipamos o parto: ele nasceu com 35 semanas – lembra.
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Bianca foi internada em uma sexta-feira, para usar remédios de indução do parto, e o parto em si aconteceu no sábado à tarde. Tudo correu bem, mas, em função do peso da criança, Bianca e o marido precisaram ficar uma semana internados com ele.
– O Eduardo passou quatro dias na UTI e mais três com a gente no quarto. Nesse período, não pudemos receber visitas. Os avós só foram conhecer o neto uma semana depois, quando saímos do hospital. Por dias eles só puderam ver o neto por foto. Até agora ele não teve muito contato com a família, algo que acho superimportante. Tenho medo de ficar expondo – conclui a mãe.