ZH – A forma como as polícias militares reagiram aos protestos de junho foi, inicialmente, muito criticada. O senhor entende que, caso ocorram manifestações novamente durante a Copa, a reação das polícias será diferente?
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Adorno – Provavelmente, porque envolve a presença de estrangeiros no país. Se espera em um evento desses uma polícia e uma política de segurança eficaz: preventiva, para evitar acontecimentos graves, e, quando houver esses acontecimentos, que sejam minimizados ao máximo. Que possa agir, investigar e transmitir ao público que estamos em um país seguro.
ZH – Na outra ponta, os “excessos” de grupos de manifestantes retiraram boa parcela do apoio popular aos protestos. Se voltarem a ocorrer manifestações durante o Mundial, como será o envolvimento das diferentes camadas da população?
Adorno – Parte da população é ciosa de lei e ordem. De poder circular pela rua com segurança. Se houver essa sensação de que movimentos vão usar violência, imagino uma forte corrente de opinião contrária. Não sei se preponderante, mas capaz de formar opinião e de fazer essa opinião chegar aos meios que têm função estratégica de difundi-la.
ZH – E teremos protestos durante a Copa?
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Adorno – Teremos, mas não tanto pela Copa. O que vai pesar mais é a perspectiva de eleições.
ZH – O Brasil está preparado para receber um evento como esse?
Adorno – Não estou muito convencido, não. Basta ver o transporte, os aeroportos. Tenho dúvida se vai ter rede hoteleira para atender esse público. Você pode dizer que São Paulo tem uma rede hoteleira melhor, mas, mesmo assim, é insuficiente para atender. Imagina em outras cidades.
ZH – Corremos o risco de um colapso, problemas sérios de infraestrutura?
Adorno – Acho que não um colapso, mas vai haver insatisfação, a sensação de que não estávamos preparados para receber um evento dessa natureza. Teria de ter começado toda a infraestrutura quando do anúncio da Copa no Brasil. Isso não se resolve da noite para o dia.
ZH – O resultado de campo da Seleção Brasileira pode anestesiar ou ampliar repercussões entre a opinião pública?
Adorno – Não estamos mais em 1970. O país é muito diferente. Essa sensação de “Pra frente, Brasil” é coisa do passado. Não vejo que vá anestesiar o país como anestesiou no passado. Estamos em uma sociedade politicamente mais madura. Que vai dizer: ganhamos, mas pagamos um preço muito caro.
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