Escola é lugar de discutir sexualidade? Desde o início da iniciativa que prevê distribuição de preservativos em colégios públicos, a questão tem gerado polêmica e despertado diferentes opiniões na sociedade.
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Para o neurocientista especializado em comportamento adolescente Rodrigo Sartório – que participou de uma chat sobre o tema nesta sexta-feira – a orientação sexual, com ou sem máquina, deve fazer parte do currículo escolar não apenas como uma matéria isolada, mas deve ser diluída em todas as disciplinas. O fato é que a sociedade precisa estar “preparada” para a máquina.
Segundo o especialista, um dos resultados mais representativos da iniciativa em outros locais é que nas escolas onde houve a implantação de dispensários de preservativo os pais e responsáveis passaram a conversar mais sobre sexo com os filhos, além de aumentar significativamente o uso de preservativo.
Antes da implantação em escolas de Massachusetts, nos Estados Unidos, os adolescentes compravam cerca de 60 preservativos ao ano. Após a colocação das máquinas nas escolas, a enfermeira passou a distribuir uma média de 350 preservativos por aluno. O ponto negativo é que não houve o registro de redução de doenças sexualmente transmissíveis (DST’s) e gravidez precoce.
– Tanto educadores quanto os profissionais de saúde são indicadas para orientar sobre sexualidade. Quem sabe a máquina torne os professores bons interlocutores sobre o tema. É fundamental a formação continuada para professores e pais, para discutir com maturidade e conhecimento o assunto. Mas é necessário um modelo de distribuição coerente e orientado – afirma.
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Nas discussões mais acaloradas, pais e professores questionam se a máquina vai estimular o sexo antes da hora. O especialista diz que o foco do dispensário é justamente o contrário. O objetivo é conscientizar os jovens e atrasar ao máximo o início da vida sexual e reprodutiva.
– Adolescentes tem seu cérebro projetado para querer sexo, não vejo a máquina como incentivo, desde que bem orientado – conclui.
O especialista dá algumas dicas preciosas para os pais que têm dificuldade de iniciar a conversar sobre o tema com filhos adolescentes. Um boa estratégia para quebrar barreiras é dar um caráter revolucionário e libertário para o uso da camisinha.
– A melhor maneira é sermos muito amigos dos nossos filhos e agir com franqueza. Jovens gostam de discursos elaborados e novas visões de mundo – avalia. Segundo ele, as meninas discutem mais frequentemente sobre sexo com suas mães (72%), seguido de amigas (13%) e professores apenas 4,6%.
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Leia o chat na íntegra:
Implantação
Ainda não foram definidas as escolas que receberão as máquinas, mas três cidades já estão confirmadas: Florianópolis, João Pessoa e Brasília. Os alunos terão uma matrícula e receberão da escola uma senha para terem acesso gratuito aos preservativos. Um dos objetivos da iniciativa é ampliar o acesso de adolescentes e jovens aos preservativos, que muitas vezes ficam constrangidos em adquirir.
A coordenadora do programa Educação e Prevenção na Escola vinculada à Secretaria de Estado de Educação, Rosemari Koch Martins, informa que serão feitas consultas ao corpo pedagógico, as alunos e aos pais para saber a receptividade do programa.
– Nada vai ser imposto. A questão da sexualidade já vem sendo inserida no currículo, se desdobrando em temas como doenças sexualmente transmissíveis, Aids, gravidez e contraceptivos, por exemplo. Esses dispensários passam a ser mais um instrumento de trabalho pedagógico para o professor.
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Pais aprovam distribuição, diz pesquisa
Em 2007, o Ministério da Saúde divulgou a pesquisa Saúde e Prevenção: cenários para a cultura de prevenção nas escolas. O estudo, realizado pela Unesco no Brasil, mostrou a aceitação de pais, alunos e professores à disponibilização do preservativo associada às atividades educativas. Foram pesquisados 102 mil estudantes, em 135 escolas públicas de 14 estados, entre maio e julho de 2005
::: 89,5% dos estudantes e 63% dos pais consideram “uma ideia legal” a disponibilização do preservativo no ambiente escolar
::: 5,1% dos alunos, 6,7% dos professores e 12% dos pais acham que a disponibilização das camisinhas nos estabelecimentos de ensino “não é função da escola”
::: 44,7% dos estudantes têm vida sexual ativa
::: 60,9% dos estudantes declararam ter usado a camisinha na primeira relação sexual
::: 69,7% fizeram uso do preservativo na última relação sexual
::: 42,7% dos estudantes alegam não ter usado o preservativo por não tê-lo na hora
::: 9,7% dos alunos declararam que não têm dinheiro para comprar camisinhas