Crianças ainda jogavam bola no campo do Palmerinhas, como é carinhosamente chamada a Sociedade Esportiva Palmeiras, na tarde de ontem, no Porto da Lagoa, na Capital, quando um oficial de Justiça e policiais militares chegaram para cumprir uma ação de reintegração de posse da área. O término de uma longa batalha judicial acabou com um triste desfecho em campo.

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Muros foram derrubados e buracos abertos nas paredes do vestiário por encarregados do atual proprietário. O clima ficou tenso quando a comunidade impediu que a área fosse ocupada.

Batalha judicial de duas décadas

Caminhões despejaram brita em cima do campo de futebol, enquanto moradores protestavam pela única área de lazer do bairro.

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– Entraram com máquina, derrubando e quebrando tudo – esbravejava o presidente do Palmeiras, Isaias Bittencourt, durante a confusão.

O terreno de oito mil metros quadrados é alvo de uma batalha judicial que dura 25 anos. Isaias explica que a área pertencia a um grupo de sócios e, em 1962, foi cedida ao clube. Mas em fevereiro, a comunidade perdeu na Justiça o direito de usar o espaço. No local, também são realizados vários projetos sociais e atividades de lazer.

– Aqui são realizados eventos tradicionais como o boi de mamão e a escolinha de futebol do Vasco, que tem 250 crianças – lembra Isaias.

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Paredes da sede foram quebradas

Estrago deixou os moradores indignados

Banco de reservas foi demolido

Revolta foi geral

A cada tijolo que caia, a revolta dos moradores aumentava. Um dos fundadores do clube da primeira divisão do futebol amador da Capital, Ailton Brasiliano Costa, 53 anos, olhava desolado para o campo que costumava jogar futebol.

– Agora, o que a gente vai fazer nos fins de semana? E como fica o nosso clube? – questiona.

O comerciante Rodrigo Aguiar, 30 anos, lembra que o time é organizado e todos pagam mensalidade para manutenção do campo.

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– Onde meu filho vai brincar? Nos domingos, a gente vem jogar e as crianças ficam brincando no parquinho – afirma.

Com a confusão em campo, a reintegração de posse foi adiada.

Hoje tem protesto

Na noite de ontem, inconformados com a decisão, moradores do Porto da Lagoa se concentraram em frente ao Clube 12 de Agosto, no Centro, onde havia uma reunião sobre o Plano Diretor.

O presidente do clube cobrou uma posição da prefeitura, que poderia adquirir a área e ceder à comunidade. Na manhã de hoje, moradores prometem fechar a Rodovia Vereador Osni Ortiga, a principal do Porto da Lagoa, em protesto.

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– A área é de preservação e nada pode ser construído. Então, queremos que ela seja um local para lazer – diz Isaias.

Saída seria comprar

O procurador da prefeitura de Florianópolis, Jaime de Souza, lembra que a prefeitura tentou intermediar um acordo entre as partes envolvidas envolvendo o campo de futebol.

Agora, com a sentença final da Justiça, o que poderia ser feito é a aquisição do terreno, segundo o procurador.

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– Mas o problema são os recursos que a prefeitura dispõe para isso. Até agora, o prefeito não determinou nada a respeito do assunto, mas pode querer tomar uma providência quanto a isso – adiantou Jaime de Souza.

História e briga

Neste ano, o clube Palmeiras completa 50 anos. Localizado na Rodovia Vereador Osni Ortiga, o Campo do Palmerinhas se tornou tradicional na região com as peladas e outras atividades esportivas e sociais realizadas no local.

Em 1987, houve a primeira tentativa de reintegração da área. Abaixo-assinados foram usados pela comunidade para tentar garantir o direito de permanecer no local.

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O comandante do 4º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Araújo Gomes, disse que diante das manifestações contrárias, policias recuaram e a decisão judicial não foi cumprida ontem.