Um rato morto, uma foto e um post no Facebook com uma crítica ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Embora tenha dito, em nota divulgada nesta sexta-feira, que acha “lícita e saudável, principalmente, entre os jovens” manifestações na internet, Calheiros mandou demitir as duas estagiárias que publicaram o conteúdo, uma delas sobrinha do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa.
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O episódio que levou à demissão das duas jovens aconteceu no dia 6, antes do recesso de carnaval. As estudantes estagiavam no Serviço de Administração da Secretaria de Recursos Humanos do Senado, que funciona no prédio da gráfica da Casa. O rato quebrou a rotina daquela manhã e acabou morto por uma copeira que bateu nele com um calendário de papelão. Enquanto esperavam que o animal fosse retirado de lá, as jovens decidiram fotografá-lo. A colega da sobrinha de Barbosa postou a imagem em sua página no Facebook com a seguinte legenda: “E a gente que achou que o único problema aqui fosse o Renan Calheiros”. A sobrinha de Joaquim Barbosa, Ariadna Barbosa Gomes Oliveira, publicou a foto com comentário semelhante.
Após a demissão, as jovens apagaram seus comentários da rede – a sobrinha de Joaquim Barbosa deletou sua conta no Facebook e disse estar proibida de dar entrevistas -, mas as fotos já haviam sido replicadas.
A demissão das estagiárias repercutiu entre funcionários da Casa: servidores que haviam compartilhado críticas, abaixo-assinados ou qualquer outro comentário sobre a eleição do presidente do Senado se apressaram em apagar qualquer vestígio das publicações.
Alvo de uma petição defendendo seu impeachment na internet com mais de 1,5 milhão de assinaturas, Renan, por meio da assessoria, negou retaliação e que tenha sido consultado sobre o caso. No último dia 26, o STF recebeu uma denúncia contra Calheiros, na qual o procurador-geral da República (PGR), Roberto Gurgel, acusa o presidente do Senado de usar notas frias para comprovar sua renda. O pedido de investigação será relatado pelo ministro Ricardo Lewandowski.
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Em nota, a Secretaria de Comunicação do Senado explicou que a demissão ocorreu por conta de um ato de indisciplina, classificando o conteúdo do post como “ofensivo”. “Conforme definido na Lei nº 11.788/2008, o estágio é ato educativo, desenvolvido no ambiente de trabalho, destinado à preparação do educando para o trabalho produtivo. Nesse contexto, a Administração, ao tomar conhecimento de um ato de indisciplina, tem o dever de agir de acordo com as normas vigentes e em cumprimento ao Termo de Compromisso assinado pelas estagiárias”. A assessoria ressaltou, ainda, que o fato ocorreu em horário de trabalho e que as jovens se utilizaram de instrumentos de trabalho.