Barack Obama depositou, nesta sexta-feira, uma coroa de flores no cenotáfio de Hiroshima, no Japão, onde estão escritos os nomes das vítimas da bomba nuclear lançada sobre a cidade por um avião americano em 6 de agosto de 1945.
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O democrata converteu-se, assim, no primeiro presidente americano em exercício a visitar o Parque do Monumento da Paz para prestar homenagem aos 210 mil japoneses mortos em razão do ataque. Passaram-se mais de 70 anos desde o episódio, mas as memórias da bomba ainda perseguem os sobreviventes. Alguns deles contaram o seu sofrimento.
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Confira os relatos:
“Fico à beira das lágrimas quando relembro o passado”
Misako Katani, 86 anos, é uma das poucas mulheres que sobreviveram a Hiroshima e também a Nagasaki, onde a segunda bomba atômica americana explodiu. Após as mortes de seu mãe e sua irmã, em 6 de agosto de 1945, em Hiroshima, Katani foi ao cemitério da família em Nagasaki. Ali foi atingida pela segunda vez pela bomba atômica, que a deixou em coma por três dias.
– Meu pai me disse: “Sua mãe e Tamie (a irmã de Katani) estão provavelmente ali, sob os escombros” – lembrou.
– Encontrei a ossada da minha mãe, coloquei em uma caixa. Depois, encontrei ossos tão frágeis que não podia recolhê-los. Meu pai me disse: ‘”estes são de Tamie”. Minha mãe havia tentado escapar segurando minha irmã nos braços, antes que a casa desabasse sobre elas e morressem queimadas – afirmou.
A mulher disse não acreditar que tenha sido vítima de um destino maldito. Segundo elas, buscar culpados não leva a lugar nenhum. Mas, é claro, menciona que teria sido mais feliz se não existissem bombardeios atômicos.
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– Guardo uma lembrança muito viva desta cena, como esquecê-la? Fico à beira das lágrimas quando relembro o passado – indaga.
– Sofri muito de problemas pulmonares, como pneumonia. Quando me posiciono diante do altar budista da família, digo para minha mãe: ‘Mamãe, por favor, venha me buscar, mas ela nunca vem – completa.
Misako guarda lembranças da cor cinza e não pode se lembrar de um céu azul. No passado, odiava os Estados Unidos, mas o pensamento mudou. Ela quer conhecer o presidente Obama e dizer a ele “não faça mais a guerra'”.
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“Ainda era um menino, incapaz de ajudar”
Aos 79 anos, Shigeaki Mori se interessou pelo destino dos prisioneiros de guerra americanos que se encontravam em Hiroshima. Hoje em dia, dirige buscas sobre os detidos australianos presentes em Nagasaki.
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– Andava sobre uma ponte e fui lançado no rio. Arrastei-me para fora da água e vi uma mulher cambalear na minha direção. Estava coberta de sangue, seus órgãos saíam do abdômen. Sustentando-os, me perguntou onde podia encontrar um hospital, mas fugi e a deixei sozinha. Os que ainda estavam vivos caíam todos ao meu redor. Escapei esmagando seus rostos. Ouvi gritos provenientes de uma casa demolida, mas fugi. Ainda era um menino, incapaz de ajudar – rememora.
“Nu, tentei fugir durante três horas”
Sunao Tsuboi, 91 anos, é co-presidente da Confederação Japonesa de Organizações de Vítimas das Bombas Atômicas e de Hidrogênio. Sofreu queimaduras graves, câncer e outras doenças, mas nunca deixou de participar ativamente na campanha para um mundo livre dessas armas.
– Foi uma experiência espantosa. Nu, tentei fugir durante três horas, mas não conseguia caminhar. Terminei escrevendo no chão, com uma pequena pedra: “Aqui morreu Tsuboi” – declarou.
Na ocasião, o homem perdeu a consciência muitas vezes, até voltar à realidade em 25 de setembro.
– Pode ser que eu morra amanhã, mas sou otimista. Nunca baixarei os braços. Nosso objetivo é zero armas nucleares – analisou.
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– Desculpas ou não, pouco importa. Quero simplesmente que o presidente Obama venha a Hiroshima e veja o que realmente aconteceu e ouça a voz dos sobreviventes – frisou.
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* AFP