Folheava um livro sobre madeiras e fui topando com alguns nomes com os quais cresci, que ia aprendendo e conhecendo numa saída atrás de frutas na mata, numa escapada para caçar ou em tarefa de procurar lenha seca. Alguns destes nomes diferem dos que ouvia e aprendi a pronunciar. O tal regionalismo.
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Algumas pronúncias corrigi (ou esclareci) cedo ainda, lendo, estudando, a informalidade do dizer tocada pelo conhecimento, básico que fosse. Em 1972, no recreio da escola, convidei colegas para “cortar folhas de pariparova para brincar”. Dona Noêmia ouviu, chamou-me e corrigiu: “É pariparoba, seu Edenilson, com ?b? de bola”. Mas fazia sete anos que eu escutava em casa com “v”, o pai usava esta “folha de mato” para aplicar, com uma colher de azeite quente, em cima de alguma dor. Agradeci à minha mestra do primeiro ano e levei a correção para casa, onde expliquei o que tinha aprendido, mas todos continuaram falando, até hoje, pariparova.
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Minha mãe usa umas expressões que não encontro no dicionário. Minha avó, quando queria se livrar de algum de nós, mandava-nos “à bugiá” (uso “g”, pode ser “j”). “Vão à bugiá”. Queria dizer para sumirmos, sairmos, ir fazer alguma coisa que prestasse em vez de lhe encher a paciência.
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Então, neste livro, que fala da madeira da árvore, da construção, dos móveis, há a palavra “etager” para definir um móvel. Eu a conhecia como “tagé” ou “tagér”. A mãe não falava “tagér”, só armário. A vó, às vezes. Uma vizinha só dizia “tagé” ao se referir ao móvel. Suas filhas também. Nunca achei no dicionário. Agora, num livro sobre madeira, descubro “etager”. Pesquiso. Na verdade, uma palavra francesa (daí, talvez, as buscas infrutíferas, estava escrevendo e procurando conforme aprendi no sítio). O certo, na língua de Bonaparte, é “étager”. Que por 51 invernos, na minha cabeça, foi “tagér”, sem formalismo, apenas regionalismo.
E “dijahoje” para indicar “ainda há pouco” não é belo? Antônio Silvano, um homem que viveu até os 90 e poucos anos e foi muito próximo de nossa família, nunca falava “você” ou mesmo “tu”. Apenas “mecê”. Era um “como estão mecês?” ou “mecês vêm?” de encher os olhos. Ou os ouvidos.
Certa vez, numa reportagem na TV sobre o falar do povo dos interiores, suas expressões curiosas, saiu esta brincadeira de um dos personagens: “Istudado nóis é. Nóis fala errado porque qué”.