Quando se fala a palavra disponível, logo pensamos nos solteiros à espera de seus pares, mas quero me referir a outra disponibilidade, a do tempo a si mesmo, que nos permite observar e pensar sobre o que somos, fazemos e representamos. A disponibilidade que permite avaliar se estamos fazendo de fato e honestamente conosco o que nos propomos, no trabalho, na criação dos filhos, na família. Essa disponibilidade que surge do afeto que recebemos e que temos a nós mesmos.

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A infância se estrutura na disponibilidade do afeto declarada pelos pais e repassada à criança aos que convive, permitindo à criança a formação de vínculos seguros e um brincar criativo, essencial para autonomia e posterior aprendizado.

Na idade escolar a disponibilidade do afeto pelos pais se mantém estruturante, mas são importantes também o apoio à socialização, seguimento de regras sociais, respeito à hierarquização (pais, professores), autoridade e apoio à competência nos aprendizados escolares, evitando o surgimento do sentimento de inferioridade.

A adolescência marca o início da formação da identidade. Para tanto, é necessário o relativo afastamento dos pais, início da crítica e a necessidade de ficar só ou com amigos. Aqui a disponibilidade do pensar abstrato se inicia.

A tolerabilidade dos pais a esse afastamento estratégico, a sensibilidade deles ao aproximar-se dos filhos com respeito e a disponibilidade de tempo, afeto e espaço são a chave desse período, pois proporcionará o crescimento e o entendimento da importância da individualidade.

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Os adolescentes não se sentem seguros. Estão treinando relações, experiências, passando por frustrações necessárias, precisando tomar decisões, e precisam de limites. Aos poucos cabe aos pais serem desnecessários, e conscientes de que não poderão evitar ou fazer tudo pelos filhos.

Os filhos saberão valorizar a disponibilidade de tempo e afeto sempre que a vivenciarem de fato. Não existem pais perfeitos, nem filhos perfeitos, o essencial é que precisamos entender e oferecer-lhes a estruturação pessoal.

*Roberta Parker Nicolau é psiquiatra e vive em Florianópolis

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