Antes de sentar para compor estas maltraçadas, parei para consertar um chuveiro e para observar um aracuã que de surpresa apareceu, algo faminto, para aproveitar o bufê que se serve às saíras, bonito-lindo, sanhaços, tiés, cambacicas (umas metidinhas) e sabiás. Foram dois bálsamos. O do chuveiro, por desenferrujar as habilidades com pequenos serviços, que trago de criança e aprimorei morando de pensão em pensão na mocidade; e o do pássaro, pela alegria de ser surpreendido por novo inquilino depois de tantos anos cultivando o hobby de espalhar frutas e milho picado no quintal.

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Mas estes são temas que podem render em outro dia. Guardarei como trigo para fazer pão. Porém, disse antes que estes dois fatos logo ao amanhecer foram como bálsamos. Por que esta definição? É porque havia definido tema mais duro e triste para hoje. Daí o alívio momentâneo.

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No fim de semana, leitor mandou mensagem relatando triste momento pelo qual passa uma pessoa que conhecemos, entregue, aparentemente de vez, ao alcoolismo e às drogas. Conversamos por e-mail buscando algum tipo de encaminhamento a oferecer e a constatação de quem está mais próximo foi dolorida: “Tratamento? Pode esquecer. Ele próprio já desistiu dele”. De dar nó na garganta. Vamos tentar, mas só com a nossa boa vontade será complicado. É preciso querer sair do fundo do poço, aceitar ajuda, e nem todos nesta situação aceitam que aquilo é um poço, que lá é o fundo. E assim vão se acabando, avessos às possibilidades.

Há meses, estava em uma lanchonete quando um homem numa bicicleta caindo aos pedaços se aproximou. Reconheci-o. Ele passou sem me reconhecer. Me aproximei, perguntei se não estava lembrando de mim. Ele tinha um olhar inexpressivo, tentava lembrar, mas disse que não me conhecia – logo ele, que tinha meus números e muitas vezes me acionou no celular. Apresentei-me pelo apelido. Ele mudou a expressão e falou meu nome completo (agora lembrava), contou algumas coisas e se foi. O dono do comércio esperou que sumisse e contou-me que vivia na rua, dormia onde deixassem – ranchos, barcos, bancos – e de vez em quando “tinha ataques”, desmaiava.

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É uma pessoa conhecida da galera, tinha vida em família – num sábado, há poucos anos, contou-me do orgulho por um filho que se encaminhava. Agora, reencontrava-o assim. Mobilizei conhecidos que foram mais próximos dele, que pouco conseguiram, até agora, para mudar o quadro.

Batalhas difíceis.