Afirmando temer o que chamou de “crise sem precedentes”, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi ao Palácio do Planalto nesta quinta-feira (28) em uma tentativa de pacificar a relação entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o STF (Supremo Tribunal Federal).

Continua depois da publicidade

Sem agenda pública nesta tarde, o gabinete de Bolsonaro, no terceiro andar do Planalto, estava abarrotado de militares e civis, como os ministros Paulo Guedes (Economia), André Mendonça (Justiça), José Levi (AGU) e Fernando Azevedo e Silva (Defesa), além do deputado Helio Lopes (PSL-RJ), aliado do presidente.

O clima, segundo relatos, era de tensão. Bolsonaro já havia demonstrado sua irritação mais cedo, pela manhã, quando o presidente da República disse a jornalistas que “ordens absurdas não se cumprem”.

Diante da crescente apreensão, Alcolumbre conversou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com ministros do STF e parlamentares e se colocou como bombeiro para tentar conter um estrago maior.

Com a anuência dos demais, o presidente do Senado pediu a audiência com Bolsonaro, que o recebeu por cerca de uma hora nesta tarde. Parte da reunião foi fechada, mas outra foi diante de mais pessoas.

Continua depois da publicidade

Segundo relatos feitos à reportagem, Alcolumbre disse que era preciso calma e responsabilidade. Alegou que o Congresso estava sendo responsável, mas que era preciso o mesmo do Executivo e do Judiciário. Bolsonaro reclamou, então, do que considera excessos do Supremo.

Alcolumbre insistiu na necessidade de pacificação para evitar uma crise sem precedentes, observação à qual, de acordo com presentes, Bolsonaro reagiu em silêncio.

O presidente do Senado saiu do Planalto com a sensação de que, ao menos nas próximas horas, Bolsonaro não tomaria nenhuma medida extremada.

“Levei uma mensagem para o presidente, ele se solidarizou com a mensagem. Então agora é calma. Serenidade e calma, porque nenhum lado vai vencer se um estiver enfraquecido”, disse Alcolumbre a senadores após a reunião.

Continua depois da publicidade

Aos pares, o presidente do Senado disse que a conversa foi “boa, muito franca”.

Durante a reunião, Alcolumbre não disse aos senadores se irá convocar o ministro da Educação para prestar esclarecimentos, como foi aprovado em requerimento em plenário pelos parlamentares.

Além de demonstrar indignação com a operação policial ordenada pelo STF ter atingido empresários, políticos e ativistas bolsonaristas na quarta-feira (27), o presidente manifesta irritação com a possibilidade de prisão de seu ministro da Educação, Abraham Weintraub.

Essa situação extrema ocorreria caso ele se recuse a cumprir determinação do Supremo Tribunal Federal para prestar depoimento.

O ministro da Justiça ingressou com um pedido de habeas corpus para Weintraub a fim de “garantir liberdade de expressão dos cidadãos”. Com o pedido de habeas corpus, a ideia é impedir qualquer medida cautelar contra o ministro da Educação.

Continua depois da publicidade

Em reunião ministerial em 22 de abril, o ministro disse que “colocaria todos esses vagabundos na cadeia, começando no STF”.

A tensão cresceu ao longo do dia porque, de um lado, o Executivo não sabia como o Supremo reagiria a esta medida. Do outro lado, os demais Poderes não calculavam qual seria a reação de Bolsonaro após uma decisão do Judiciário.

Bolsonaro já vinha irritado com o STF por causa da decisão do decano Celso de Mello de tornar público o vídeo da reunião ministerial realizada em abril e com o fato de o ministro ter, como medida de praxe, encaminhado à PGR (Procuradoria-Geral da República), pedidos de partidos e parlamentares de oposição para que o celular de Bolsonaro fosse apreendido.

Na ocasião, o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, divulgou uma nota dizendo que uma eventual medida nesse sentido poderá ter “consequências imprevisíveis”.

Continua depois da publicidade

Nesta quinta, Heleno negou que o conteúdo do texto seja alguma sinalização em direção ao autoritarismo.

À tarde, Bolsonaro publicou em uma rede social um vídeo do jurista Ives Gandra cujo título é “A politização no STF e a aplicação pontual da 142”. O artigo 142 da Constituição determina que as Forças Armadas só podem ser convocadas a intervir para manter a ordem em caso de anarquia por algum dos Poderes.

Leia mais:

Algo muito grave acontece com nossa democracia, diz Bolsonaro