A situação era insuspeita: a dona chegou com a cadela poodle preta de seis anos e alguns pertences do animal, como cama e roupas, solicitando hospedagem para os poucos dias em que ficaria fora da cidade. Tratando-a como “filhinha”, despediu-se antes de rumar para a viagem:

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– Mamãe volta em seguida.

Nunca mais apareceu. A mulher informou nome, endereço e telefone falsos, em um golpe que costuma ser aplicado em proprietários de pet shops, salões de banho e tosa e clínicas veterinárias.

– Uma semana se tornou três meses. Não quis mais e abandonou. Era muito mais digno ter pedido ajuda – diz Carolina Xavier Martins, gerente da Vetmax Clínica Veterinária, em Porto Alegre.

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Os motivos para o ato de total insensibilidade são variados. Protetores de animais e veterinários estão habituados a ouvir donos reclamando da idade avançada, do custo e dos hábitos de cães e gatos. Mudanças de endereço, casos de doença na família e falta de informação específica sobre raças também levam à decisão de se desfazer de um mascote – o proprietário que não sabe que o cachorro tem determinado tipo de comportamento acaba por se sentir desapontado e desiste de mantê-lo em casa, por exemplo.

A venda de animais domésticos deve ser proibida?

Donos e funcionários de lojas arcam com prejuízos

Muitos não são nem os responsáveis dos bichos largados nas pet shops – encontram um cachorro maltratado e faminto perambulando e o levam para um check-up, fazendo de conta que voltarão para recolhê-los. A suposta boa ação acarreta gastos para terceiros, e o animal continua sem lar.

– Acham que estão tirando o bichinho da rua, mas largam para outra pessoa e tiram o corpo fora – condena Diogo Bessa Fortes, da Hobby Pet Shop.

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A equipe de Fortes foi enganada duas vezes nos últimos meses. No primeiro caso, a impostora solicitou banho, vacina e vermífugo para dois viralatas de grande porte. Uma funcionária decidiu levar ambos para casa quando ficou claro que tudo não passara de encenação. Total da conta jamais paga: cerca de R$ 300. No segundo episódio, Fortes suspeitou que o cliente não fosse o verdadeiro dono do filhote – pediu um banho e nunca mais apareceu. A aposentada Maria Gevehr Cardoso, 80 anos, avó de Fortes, acabou se apaixonando pelo cusco, batizado de Tobi.

– Sou doida por animais. Achei absurdo, fiquei com pena. Cachorro pequeno é a mesma coisa que criança. Um bichinho tão engraçadinho, e a pessoa larga. Não tem coração – compadece-se Maria.

De acordo com Kika Menezes, responsável jurídica da Associação Gaúcha de Pet Shops (Agapet), quem fornece dados pessoais falsos ao solicitar um serviço e nunca mais retorna para apanhar o bicho está cometendo duas violações à lei: o chamado crime do falso e o crime de abandono. A pena prevista para cada uma delas é de três meses a um ano de detenção, mais multa. A Agapet reforça a necessidade de que os funcionários dos estabelecimentos exijam documentação dos clientes para que seja criado um cadastro mais detalhado dos donos dos animais.

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Respeite o pet que você tem

– Antes de adotar um animal, informe-se sobre as características de cada raça. Um cachorro ativo e de grande porte precisa de espaço. Procure saber como fazer a adaptação se já tiver outros bichos em casa.

– Se precisa doar o gato ou o cachorro, tire fotos e faça a divulgação entre os seus contatos. Peça também o auxílio de ONGs, grupos de adoção e protetores voluntários.

– Animas castrados, desverminados e vacinados têm maior receptividade. A castração evita o abandono futuro e crias indesejadas.

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– Um bicho acostumado a atenção exclusiva em casa pode se tornar agressivo ou ser agredido ao ser encaminhado a abrigo. Ideal é entregá-lo diretamente ao próximo dono.

– Tenha paciência. Pode levar um tempo até que surja um interessado em ficar com o pet.

Fontes: Carolina Xavier Martins, sócia-fundadora da União das Amigas Protetoras dos Animais, e Magliane de Oliveira, sócia-voluntária da Associação Riograndense de Proteção aos Animais.