Aos 66 anos, o empresário Luiz Fernando Furlan não titubeia quando questionado sobre a fórmula para destravar o crescimento do país: investir em infraestrutura. Ex-ministro do Desenvolvimento do governo Lula e conselheiro independente da BRF, o catarinense avalia que somente com investimentos estruturais será possível reduzir custos e dar mais competitividade aos produtos brasileiros.

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Furlan conversou com Zero Hora na semana passada, durante o Fórum de Comandatuba, que reuniu na Bahia políticos e empresários. Otimista, o ex-ministro aposta na realização de grandes eventos para incentivar o governo a qualificar a logística nacional. A análise macroeconômica é interrompida apenas quando o esporte lhe chama. Semifinalista do torneio de tênis do fórum, ele pediu licença para tentar chegar à disputa da taça de campeão.

Zero Hora – O governo tenta acelerar o crescimento da economia. No entanto, essas ações não têm surtido o efeito esperado e o Produto Interno Bruto (PIB) continua baixo. Como o senhor avalia as medidas adotadas?

Luiz Fernando Furlan – A essência do problema do Brasil é estrutural. É claro que quando alguém está doente, muitas vezes a primeira coisa é dar um paliativo para baixar a febre. Mas as questões de infraestrutura, carga tributária e burocracia do Brasil precisam ser resolvidas. E talvez a gente tenha agora, com esses eventos internacionais (Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016) uma oportunidade de fazer avanços para dar competitividade ao país.

ZH – De que forma esses eventos podem ajudar a desenvolver a economia?

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Furlan – Por exemplo, a primeira impressão de um visitante é o aeroporto, se o aeroporto está congestionado, se a bagagem demora para chegar. Ou o porto, que é outra impressão de entrada. Essas coisas todas vão tirando a produtividade e onerando a produção brasileira. Não é o estrangeiro que paga a mais no produto brasileiro pela ineficiência. Isso é descontado na cadeia produtiva do industrial, do processador, do produtor. E, hoje, resolver essas questões só depende do Brasil. Não faltam recursos, nem capacidade para construir o projeto. Tudo isso nós temos. É uma questão de colocar senso de urgência e acelerar o passo.

ZH – Os esforços do governo são suficientes para ampliar a competitividade?

Furlan – Os esforços existem, mas eles são insuficientes. Eu acho que o Jorge Gerdau, na Câmara de Competitividade e Gestão, certamente sabe tudo o que tem que fazer. Ele deve estar sendo uma espécie de pregador: aquele que vai direto ao ponto, com insistência. Então, uma hora essa pregação vai ter de pegar. E as pessoas envolvidas têm de acreditar e fazer a entrega daquilo que muitas vezes é anunciado, mas acaba não acontecendo.

ZH – Os planos anunciados não são realizados? É culpa da burocracia?

Furlan – Toda a vez que você faz mudanças ou simplifica a burocracia, você encontra resistências. A simplificação faz com que pessoas que tinham uma autoridade deixem de ter. Se o processo é eletrônico, aquele funcionário que poderia dizer não deixa de ser necessário.

ZH – São esses entraves na estrutura pública que atrapalham o país?

Furlan – Há, muitas vezes, um excesso de rigor com pequenos detalhes, e acabam esquecendo das grandes questões. O meu avô, gaúcho de Santa Maria, costumava dizer que o ótimo é inimigo do bom. Às vezes, você busca o ótimo a vida inteira e não chega lá. E poderia ter feito o bom, e depois perseguir o ótimo.

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ZH – Então, o que falta?

Furlan – O Brasil precisa realmente de senso de urgência. Países comparáveis ao Brasil, países grandes como os Estados Unidos, estão voltando a ser mais competitivos que o Brasil. Só aumentar salário e elevar o consumo não melhora a capacidade do estrutural do país para competir com as outras nações. Hoje, você tem americanos com salários iguais aos dos brasileiros, com mais acesso à tecnologia, com a economia bem mais aberta e, inclusive, com mão de obra de trabalhadores estrangeiros.

ZH – A ausência de mão de obra qualificada acaba por prejudicar a falta de competitividade?

Furlan – O Brasil tem carência de profissionais em muitas áreas. Nós precisamos ter uma política agressiva de atração de talentos, pois eles terão efeito multiplicador, criando muito mais empregos. O Ciência Sem Fronteiras, que é um excelente programa de mandar estudantes brasileiros estudarem fora, é muito bom. Só que esses jovens vão ficar lá dois anos, depois talvez trabalhem lá um pouquinho, depois voltem. Então, são medidas de médio e longo prazo que aos poucos vão se encaixando. Mas há coisas urgentíssimas que não dá mais pra esperar, principalmente, em relação à infraestrutura e à questão tributária.

ZH – A inflação, que se afastou do centro da meta de 4,5%, preocupa?

Furlan – A inflação vai ficar dentro dos limites da meta. Não tenho preocupação que extrapole. Além disso, há outras medidas que podem melhorar a competitividade da produção e da área de serviços, que diminuem a inflação. Isso porque, à medida que você retira custos, tem condições de vender por menos e competir com o produto importado.