Itaiópolis foi uma das cidades catarinenses que, nesta terça-feira (30), registrou mortes durante o ciclone que atingiu todo o Estado. Miraci Fernandes, 37 anos, morreu após o carro em que ela estava ser atingido por uma árvore, na zona rural da cidade. Alex Moreira Bueno, 20 anos, era o motorista, e sobreviveu ao acidente com apenas um arranhão na mão. Da tarde da última terça-feira, ele levará as lembranças dos 40 minutos em que correu para buscar ajuda, as memórias de uma amiga querida e uma sensação: foi contemplado com um milagre.
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Miraci e Alex já se conheciam por frequentarem a mesma igreja em Itaiópolis, mas trabalhavam juntos há apenas dois dias — ela havia acabado de ser contratada pela funerária onde ele trabalha há quase um ano. Na terça-feira, deixaram a empresa com outra colega para realizar uma das atividades: vender planos funerários “de porta em porta”. O céu estava claro, o dia estava ensolarado e o grupo nem imaginava que um ciclone extratropical passava pelo Estado e logo transformaria totalmente aquele dia de trabalho.
— Itaiópolis é uma cidade pequena, mas tem muitos moradores na zona rural. Por isso, fomos até uma localidade do interior, a cerca de 27 quilômetros do centro da cidade, e estávamos fazendo o caminho de volta. Foi quando eu ouvi o estouro da árvore caindo sobre o carro e vi o clarão de quando passou pela fiação elétrica — recorda Alex.
A árvore, um eucalipto, dividiu o carro. O jovem olhou para os lados, mas não conseguiu enxergar a colega que estava sentada ao lado, nem Miraci, que estava no banco de trás. Ele lembra de sair depressa do veículo e correr por cerca de 800 metros, debaixo da tempestade, para procurar ajuda. Com o rompimento da rede elétrica, não havia sinal de celular, e ele não conseguia fazer ligações nem mandar mensagens.
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— Corri por uns cinco minutos até encontrar moradores daquela região. Tivemos que voltar e passar pelo local do acidente para pegar o carro e ir em busca de um local onde podíamos ligar para os bombeiros, porque ninguém conseguia telefonar. Foram mais uns 35 a 40 minutos até chegarmos a um posto. Eu só conseguia pensar em achar um jeito de salvar minhas colegas — conta ele.
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Bombeiros precisaram usar técnicas de desencarceramento
Os Bombeiros Voluntários de Itaiópolis foram acionados às 16 horas. Uma viatura de atendimento pré-hospitalar e uma unidade de resgate foram enviadas para o local. Miraci e a outra mulher estavam presas nas ferragens, e os bombeiros precisaram usar ferramentas hidráulicas para concluir o resgate. Miraci, no entanto, não havia resistido aos ferimentos e morreu no local.
A outra vítima, ocupante do banco do carona, apresentava suspeita de fraturas, escoriações e um corte contuso na face. Nesta quarta-feira ela ainda estava internada, em observação. Alex passou por exames, mas o único ferimento que é possível de identificar é um arranhão na mão.
Depois de chamar os bombeiros, ele ainda permaneceu no local do acidente para esperar a perícia e sua grande preocupação era que a notícia não chegasse equivocada aos pais já que, das três vítimas do acidente, apenas uma foi encaminhada imediatamene ao hospital.
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— Hoje, quando acordei, não conseguia mais acreditar no que aconteceu. Parece que foi um filme, que não aconteceu comigo. Eu acredito que Deus operou um milagre na minha vida — afirma.
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Uma mulher guerreira
Miraci estava no segundo dia de trabalho e completava 37 anos na terça-feira. Ela deixou três filhos, pelos quais batalhava muito para oferecer uma vida melhor. Esta característica foi lembrada pela amiga Cleunice de Fátima Squioquet em entrevista ao A Notícia: era uma mulher guerreira, que batalhava independentemente das condições de tempo para conseguir sustentar os três filhos sozinha.
Para Alex, ficou a memória de uma mulher que não parecia acreditar em perder tempo com tristeza ou mau humor.
— Ela era sensacional. Muito extrovertida, estava sempre sorrindo, não importava onde você a encontrasse. Para ela, não tinha tempo ruim — conta.
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Estragos ocorreram em todo o Estado
Fortes rajadas de vento causadas pela formação de um ciclone atingiram praticamente todas as regiões de Santa Catarina na tarde de terça-feira (30), deixando um rastro de destruição. Ao menos nove mortes foram confirmadas, e uma pessoa ficou desaparecida. O vendaval começou na região Oeste ainda pela manhã e avançou pelo Estado durante a tarde.
Em Itaiópolis, foram registradas várias diversas ocorrências por causa do vento. Houve quedas de árvores, destelhamentos e uma empresa de fumo teria ficado destruída após a queda de paredes e teto.
Outras cidades da região Norte também contabilizaram estragos causados pela passagem do ciclone. Em Joinville, Canoinhas, Corupá, São Francisco do Sul e outros municípios houve ocorrências como quedas de árvores, destelhamentos e queda de energia elétrica.