O ano acabara de começar e os fogos de artifício ainda iluminavam o céu quando cerca de 180 pessoas passaram por um susto de marcar a festa de Réveillon para sempre: uma ponte pênsil no bairro Barra do Itapocu, em Araquari, Norte de Santa Catarina, virou ao ter um cabo de aço rompido.

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O acidente foi causado pelo excesso de peso em cima da ponte, já que, naquele momento, havia um fluxo muito intenso de pessoas caminhando para os dois lados da estrutura, que faz a ligação com a praia.

Andrei do Nascimento, nove anos, passava pelo local com a família na hora do acidente. Eles pretendiam se encontrar com outros parentes e amigos que já estavam na praia para comemorar o Ano-novo.

– Eu percebi que a ponte estava entortando, mas só deu tempo de ouvir o estouro e me agarrar na ponte – conta.

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O reflexo rápido valeu a ele ser um dos únicos a não cair imediatamente no rio Itapocu. Todas as outras pessoas, assim como caixas de isopor, bolsas, garrafas e outros pertences, despencaram de uma altura de cinco metros em direção à água, que tinha, naquele momento, entre 1,50m e 2 metros de profundidade.

As imagens são de Eduardo Rode, da página Barra do Itapocu e Morro Grande em Araquari/SC no Facebook

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A mãe de Andrei, Eliane do Nascimento, 34 anos, segurava no colo a menina Bianca Rafaela, de dois anos. Ela sofreu uma luxação no pé esquerdo, mas conseguiu proteger a criança.

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– Eu tenho epilepsia, não podia ficar muito nervosa, porque poderia causar uma crise. Se acontecesse, não teria conseguido voltar à superfície – recorda Eliane. – Na hora, foi todo mundo caindo um por cima do outro.

Amiga de Eliane, a moradora de Porto União Maria Eliane Sucharski, 40 anos, sentiu que não era certo haver tantas pessoas passando pela ponte ao mesmo tempo. Ela chegou a pedir os parentes para voltarem e esperarem depois que já haviam começado a travessia.

– Como não sou daqui, não sabia como era esta ponte, mas decidimos passar mesmo assim. Na hora em que ela virou, o primeiro pensamento foi “pronto, agora eu vou morrer” – conta – Eu acho que precisava de policiamento aqui, alguém que proibisse a passagem de tanta gente ao mesmo tempo.

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Ricardo Kraufezyk, 56 anos, que fazia parte do mesmo grupo, acredita que, além da superlotação, o problema também foi causado pela bagunça de alguns festeiros mais animados.

– Havia gente embriagada balançando a ponte. Além disso, havia tanta gente que ficava um encostado no outro na hora de andar – conta ele.

Para os envolvidos no acidente, a colaboração dos moradores da região, que ajudaram no resgate imediatamente, assim como o atendimento dos bombeiros, foram exemplares. Eles reclamaram apenas do comportamento da Polícia Militar, que teria reagido com agressividade a alguns acidentados mais nervosos.

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Bravura

Quando a ponte virou e os gritos de socorro começaram, o comerciante Osmar de Borba Coelho, 49 anos, deixou a lanchonete, que fica a poucos metros de distância, e correu para dentro do rio. Com ele, estavam o filho, o genro e clientes da lanchonete, que esqueceram da festa de Ano-novo para ajudar os acidentados. Primeiro a nado, depois com bateiras, eles retiraram os feridos, as crianças e as mulheres grávidas.

– Umas 40 pessoas foram ajudar, e em 15 minutos tínhamos tirado todos da água. Quando os bombeiros chegaram, só precisaram fazer os primeiros socorros e levar os feridos para o hospital – conta Osmar.

Depois, ele e outros moradores ainda passaram algumas horas da madrugada fazendo a travessia daqueles que estavam na praia na hora do acidente, já que o único caminho para passar de um lado a outro era a ponte. Ela foi construída há quatro anos e Osmar chegou a ajudar a fazer a pintura.

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– Antes, o único jeito de passar era de barco mesmo – lembra o comerciante – Acho que, nesta noite, passamos quase mil pessoas de um lado a outro. Terminamos perto das 4 horas da manhã.

Como muitas pessoas perderam tudo o que carregavam na hora da queda, tudo o que é encontrado na água está sendo depositado em um carrinho de mão que fica na frente da lanchonete de Osmar. Foi assim que muitos envolvidos no acidente puderam recuperar óculos de grau, sapatos e até a chave de um carro.

O Corpo de Bombeiros de Araquari informou que 30 pessoas foram encaminhadas a unidades de saúde, com ferimentos leves e moderados. Eles prestaram atendimento e contaram com a ajuda de bombeiros de Barra do Sul e de Barra Velha.

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Segundo o prefeito de Araquari, João Pedro Woitexem, a ponte havia passado por uma vistoria técnica e manutenção preventiva recentemente. Assim, segundo os laudos, estava em perfeitas condições de travessia, mas sua capacidade máxima de 30 pessoas foi muito ultrapassada. Ela deverá ser consertada nos próximos dias, com reforço de cabos de aço reservas.