Quando o catarinense Pedro Barros, de Florianópolis, conquistou a medalha de prata na Olimpíada de Tóquio no skate Park, em 2021, um novo momento do esporte começava em Santa Catarina. Dois anos após o feito histórico, o skate se populariza cada vez mais e novas pistas são inauguradas pelas cidades catarinenses. Em Florianópolis pelo menos duas grandes pistas das modalidades Park e Street foram inauguradas. Além disso, o Estado entrou na rota de grandes eventos da modalidade no país. Neste ano, em fevereiro, Criciúma foi palco do circuito nacional Skate Total Urbe, abrindo o calendário brasileiro de skate nas modalidades Park e Street.
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Apesar da recente visibilidade para o skate, o esporte é praticado no Estado há mais de 50 anos. Não se sabe ao certo como chegou por aqui, mas os primeiros registros são da década de 1970. Em 1978, Florianópolis recebeu um campeonato nacional no Clube 12 de Agosto, no bairro de Jurerê, no Norte da Ilha. Tal evento é considerado importante para o desenvolvimento da modalidade no Brasil e destaca o lugar como uma das primeiras pistas do país, como expõe Júlio Gabriel de Sá Pereira na dissertação de mestrado dele.
Intitulado “Relações com o skatismo em Florianópolis”, o material foi defendido em 2016, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Na pesquisa, Pereira mostra que o skate se popularizou na cidade devido a forte ligação com a prática do surfe, assim como ocorreu no Rio de Janeiro e na Califórnia, nos Estados Unidos.
— O skate é uma adaptação do surfe. Só que ele se junta com o lifestyle da rua, do grafite, da moda e da música. Ele junta muitas culturas — ressalta Daniel Bob, skatista e diretor da escolinha de skate da Associação de Skate da Costeira do Pirajubaé (Ascop), em Florianópolis.
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Bob e outros skatistas defendem o esporte como um estilo de vida, citando é a única prática esportiva em que o atleta comemora o acerto do adversário. Por estar ligada à cultura da rua, a parceria é importante e o maior desafio é superar a si mesmo.
No entanto, o skate nem sempre foi visto dessa forma. Durante muitos anos a prática foi marginalizada. Rossano Alves da Silva, 48 anos, começou a andar de skate aos cinco anos, escondido dos pais. O skatista gaúcho lembra que a polícia proibia que os jovens andassem de skate nas ruas e até tirava a prancha deles.
— A gente começou sendo muito marginalizado. Agora, com a inclusão nas Olimpíadas, as pessoas já estão começando a entender que o skate pode ser visto de outra forma — comenta.
Rossano mora em Florianópolis desde 2016 e é um dos instrutores na Ascop. Na capital catarinense, ele sente que não há vergonha em carregar o skate embaixo do braço, mas que em cidades longe de grandes centros urbanos ainda há preconceito com os skatistas.
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Visão compartilhada pelo medalhista olímpico Pedro Barros. O manezinho de 27 anos e oito vezes campeão mundial no skate park conta que com o passar do tempo o esporte foi evoluindo e que conseguiu “abrir a cabeça de muita gente”.
— Essa evolução não passou somente pelos skatistas, mas também para as pessoas de fora, que mergulharam na nossa cultura, na nossa vivência e viram que o skate é um esporte que tem muito a agregar, em diversos aspectos — expressa Pedro Barros.
É evidente como o skate tomou roupagem de esporte após a Olimpíada de Tóquio, ocorrida em 2021. Iasmin Chacur Fujita, coordenadora do projeto da Ascop, comenta que houve uma mudança grande nas pistas após o evento. Ela percebe que há mais crianças e famílias nesses espaços. Pedro Barros lembra que Santa Catarina, no geral, sempre foi um estado com muitos skatistas, mas sem dúvidas, após Tóquio houve um aumento significativo:
— É muito irado ver que pessoas de todas as idades começaram a se interessar pelo esporte depois da Olimpíada.
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Skatistas têm se tornado ídolos
A Ascop atende cerca de 50 crianças, oferecendo aulas de skate na pista da Costeira do Pirajubaé, em Florianópolis, todas as manhãs de sábado. Rossano, um dos instrutores, acha engraçado como o número de crianças no projeto cresceu:
— Antes da Olimpíada, por exemplo, as pessoas não gostavam que a gente (skatista) fosse a referência do filho delas.
Os skatistas têm se tornado ídolos para as crianças. A principal estrela, sem dúvidas, é Rayssa Leal, de 15 anos, medalhista olímpica no skate street.
— Uma menina é a referência. Na minha época, quando comecei a andar de skate, eu era a única mulher — lembra Iasmin, de 31 anos.
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No Brasil, segundo pesquisa do Datafolha encomendada pela Confederação Brasileira de Skate (CBSK) em 2019, há 8,5 milhões de praticantes, sendo que 73,74% são homens e 26,26% são mulheres. O número de mulheres representava, em 2019, um crescimento de 75% entre as praticantes, em relação a um dado de 2015 do próprio Datafolha.
Além da Rayssa Leal, muitos nomes de brasileiras se destacam no cenário do skate mundial, como Pâmela Rosa e as catarinenses Yndiara Asp e Isadora Pacheco.
— É visível o crescimento do skate feminino. Me sinto lisonjeada por ser uma inspiração para mais meninas e mulheres seguirem no esporte e continuo com uma vontade enorme de me dedicar ao máximo para quebrar mais barreiras e abrir cada vez mais espaços para as próximas gerações — comenta Yndiara.
Rayssa Leal, a Fadinha, conquista o título do X-Games pela segunda vez

Onde andar de skate em Santa Catarina
Um levantamento da Federação Catarinense de Skate (FCSKT) indica que há pistas de skate em pelo menos 24 cidades do Estado: Criciúma, Cocal do Sul, Sombrio, Tubarão, Imbituba, Florianópolis, Santo Amaro da Imperatriz, Curitibanos, São José, Biguaçu, Itapema, Bombinhas, Balneário Camboriú, Itajaí, Brusque, Joinville, São Bento do Sul, Blumenau, Ilhota, Gaspar, São Francisco do Sul, Chapecó, Xanxerê e Maravilha. A maioria delas estão concentradas na Grande Florianópolis e no Vale do Itajaí.
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Em Florianópolis, por exemplo, recentemente foi inaugurada a pista de skate street no bairro da Trindade, com o investimento de R$ 1,84 milhão. Além desse novo espaço, a prefeitura também está construindo uma pista na parte continental, mas da modalidade park, com o valor estimado em R$ 4,6 milhões. A administração municipal tem como o principal objetivo a evolução do esporte na região, já que os projetos contaram com o apoio dos esportistas para a adaptação dos espaços à prática.
Um dos skatistas envolvidos foi Pedro Barros, que, junto com outros atletas, possui experiência em pistas do mundo inteiro, o que contribui para que os espaços públicos possam oferecer a melhor prática ao morador.
— Quando os obstáculos são colocados fora do padrão, muito altos, muito baixos, muito próximos, não tem como usar adequadamente. É como construir um campo de futebol retangular, não vai dar para jogar — pontua Daniel Bob.
Para a preservação das pistas são necessários dois fatores: a manutenção e o “localismo”. Bob explica que o “localismo” é quando o skatista zela pelo espaço e se sente “dono do lugar”. Já a parte da manutenção deveria ser de responsabilidade do poder público. Os skatistas da Costeira do Pirajubaé comentam que as reformas nas duas pistas da região são feitas por eles mesmos, que compram os materiais, dividem os valores e colocam a mão na massa.
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— Essas pistas foram construídas e foram abandonadas, nunca foi dada nenhuma manutenção por parte da prefeitura e nenhum órgão — reclama Rossano.
A pista de street da Costeira existe desde 2008 e a de park desde 2016. O local já foi palco de torneios nacionais e internacionais. Ao ser questionada, a prefeitura de Florianópolis disse que “pretende auxiliar e participar da recuperação das pistas da Costeira, para que as mesmas possam retornar ao roteiro de campeonatos nacionais e mundiais de skate”.
Além disso, também apontou que está fazendo um levantamento junto com os skatistas sobre as demandas necessárias para a pista da Costeira e outros locais na cidade, e que os pedidos servirão de base para o lançamento de um edital específico para manutenção das pistas.
— Preservar pistas que são públicas também contribui para a evolução do skate, já que se não estiverem em bom estado, não é possível para muitas pessoas andarem, treinarem e aprenderem novas manobras — comenta o skatista Pedro Barros, defendendo que esse tipo de ação fortalece o surgimento de novos atletas.
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Florianópolis inaugura a maior pista de skate street de SC

Diferenças entre Street e Park
O ponto em comum entre as modalidades Street e Park são dois: o próprio skate e as medalhas olímpicas. Isso porque, na Olimpíada de Tóquio, em 2021, o Brasil conquistou três pratas com o skate: duas na modalidade street, com Rayssa Leal no feminino e Kelvin Hoefler no masculino, e uma no park com o catarinense Pedro Barros.
- Street: O skate street, como o nome sugere, é aquele com obstáculos da “rua”. Nele, os atletas precisam completar um circuito, fazendo manobras em corrimãos, escadas e desníveis, obstáculos que lembram o cenário urbano. Nas competições, os skatistas ainda realizam manobras separadas do circuito, utilizando os obstáculos das pistas.
- Park: O park é disputado em uma pista que lembra uma tigela funda. Todo percurso ocorre dentro desse espaço, em que os atletas tomam velocidade para executar as manobras.