Quando elas chegam na pista, todos param e observam. Mesmo que as meninas já tenham conquistado espaço no skate, elas ainda são novidade e chamam a atenção.

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O esporte já foi associado a movimentos de rebeldia e vandalismo, mas, atualmente, desponta como tendência para quem quer curtir uma vida livre e repleta de pequenos prazeres.

Nomes como o de Leticia Bufoni e Karen Jonz, brasileiras skatistas que arrasam nas competições pelo mundo afora, não soam mais tão estranhos aos nossos ouvidos. E tem muita menina que não quer competir, mas aposta no skate como diversão.

Como a joinvilense Flávia Guimarães, de 17 anos. Os pulsos da jovem dão a dica: tatuadas na pele, as palavras “SK8 Life” revelam que, mais do que esporte, skate é um estilo de vida. A pista e as ruas, para a garota, são lugares de diversão. E o que combina mais com essa alegria do que amizade?

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Foi no Parque da Cidade, em Joinville, que Goon, como é chamada, conheceu Evelyn Borges, 14 anos. As mães das meninas trabalharam juntas e, ao encontrarem-se no espaço recreativo certo dia, apresentaram as filhas. Apesar da diferença de idade, a empatia foi grande desde o começo e, hoje, as duas não faz apenas rolé de skate juntas, mas estenderam a amizade para além da pista.

– Gosto de produzir vídeos da molecada andando e a Evelyn é minha camera girl – brinca Goon. – Às vezes, vamos ao shopping, ao cinema. O bom do skate é que te aproxima de muitas pessoas.

A menina mais velha é também a que possui mais experiência com o objeto. Como mora no Guanabara, atrás do parque, quando estavam construindo a pista fez amizade com skatistas. Sem dinheiro para comprar o próprio skate, pediu doação de peças usadas para os garotos e montou ela mesma o equipamento. Na inauguração do parque, ficou em segundo lugar no campeonato feminino.

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– Havia poucas meninas concorrendo, mas mesmo assim foi uma surpresa. Eu aprendi tudo sozinha mesmo, mas principalmente porque conto com as dicas dos meninos. Eles incentivam bastante – explica Goon.

Desde então, a garota vem acumulando roxos nas tentativas de se aperfeiçoar no esporte. Ela torceu o pé oito vezes, mas não para: Goon quer mesmo se profissionalizar. Ou, no mínimo, abrir um empreendimento de skate e artigos esportivos.

– Eu tinha o sonho de competir em outras cidades e levar meu nome lá para fora. No comecinho deste ano, fechei patrocínio com a Loja Square Skate Shopping. Em janeiro, participei de uma competição em São Francisco do Sul e levei o troféu de campeã. Foi alegria em dobro.

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A mais jovem das amigas ainda não compete, mas está se preparando para o desafio. Foi no início de 2013 que pegou mesmo gosto pelo skate. Como a avó mora perto, ela vai ao parque, geralmente, quatro dias na semana – de quinta a domingo. A prática começa lá pelas 15 horas e é difícil sair da pista antes das 20 horas.

– Comecei a procurar por manobras na TV, na internet, aprendi de modo autodidata. Meus amigos e um tio dão muitas dicas, e também vejo vídeos que servem de inspiração. Dá para notar que as meninas participam cada vez mais das competições e fazem questão de ganhar esse espaço.

Adeptas da modalidade street, as duas garotas comemoram a naturalidade com que o skate foi para as ruas, parques e praças. Elas acreditam que, aos poucos, a sociedade também está se acostumando com a imagem, embora ainda enfrentem preconceito.

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– Eu gosto da liberdade de andar para lá e para cá, subir nos bancos, descer morros. Mas há muita crítica de quem não conhece. As pessoas olham de cara feia de dentro dos carros, principalmente para as mulheres – diz Evelyn.

Amor nas pistas

Não é todo dia que você inicia uma prática esportiva desafiadora e, de quebra, conhece a pessoa com quem virá a ter um romance sobre rodas. Pois a auxiliar de escritório Nicolle Nagel, 17 anos, teve um momento assim. Após o incentivo da melhor amiga, que anda de skate há algum tempo, ela resolveu comprar um longboard e participar dos rolés também. Logo na estreia, em 2013, no Parque da Cidade, conheceu Allan Morais. Já dá para adivinhar o desfecho dessa história.

Um mês de conversas, passeios e dicas depois, o garoto a pediu em namoro. Eles estão juntos há nove meses – mesmo tempo que Nicolle tem de experiência séria com o skate. Quatro vezes na semana, durante duas ou três horas por dia, o casal pratica o esporte favorito pelas ruas da cidade.

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Com o namorado como professor, Nicolle tem um incentivo a mais, especialmente porque demora a aprender as manobras. Para facilitar, ela capricha no visual – short, regata, camiseta, roupas mais leves e soltas, além de garantir o estilo, proporcionam mais conforto na hora de realizar a atividade.

A jovem já fez um pouco de tudo: patinação, natação, futebol, vôlei, dança… Hoje, dedicando-se apenas ao long, ela percebe o quanto o esporte cresceu no Brasil, mas torce para que as mulheres sejam tão reconhecidas como skatistas capacitadas quanto os homens.

Liberdade sobre rodas

Impossível explicar a sensação de estar nas ruas com os pés firmes em cima de um shape. É o que diz a operadora de rastreamento Viviane Cristina Leite, 23 anos. Desde 2007 ela se arrisca em manobras de skate na modalidade street. E tudo começou porque namorava um menino que andava também. Certo dia, ele a surpreendeu com um skate de presente. O namoro terminou, mas não a paixão pelo esporte.

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– Além de exercício para o corpo, quando você faz algo de que gosta, isso te faz bem. Tira o estresse, traz felicidade. Fora que as pessoas te olham diferente, você chama atenção, sente que se destaca.

Após a mudança para Joinville, Viviane continuou adepta do hobby. Os primeiros amigos que fez aqui, inclusive, são frutos da prática esportiva – o que facilitou muito sua adaptação. Depois que começou a trabalhar, ficou mais difícil manter um cronograma de treino, mas Viviane sempre dá um jeito de praticar. A garota não fica mais de um mês sem dar um rolé de skate. Geralmente, pratica nos finais de semana e à noite, ou sempre que tem uma folguinha. Vai com amigos à praça Tiradentes, no Floresta, ao Parque da Cidade e também, às vezes, ao Storm Skate Park.

Sempre que pode, participa de campeonatos. Foram pelo menos dez nos últimos anos – inclusive em outras cidades, como Florianópolis e Curitiba -, dos quais venceu dois. Em 2010, a jovem passou a contar com o apoio da Grind Skate Shop. Foi um incentivo ainda maior para que continuasse praticando, pois deixou de ter custos com o equipamento. Ainda assim, Viviane se lamenta pelo preconceito e falta de oportunidades para a profissionalização.

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– Não botam fé que a menina também pode andar, que somos habilidosas. Conseguir apoio até rola, mas patrocínio é bem difícil.

Também por causa das dificuldades, ela acredita que a presença feminina no esporte ainda está fraca em Joinville, embora venha crescendo visivelmente.

Dicas de segurança

  • Lembre-se de investir em protetores para evitar acidentes.
  • Parece besteira, mas uma joelheira pode impedir que um tombo simples se torne algo mais sério.
  • Em todas as modalidades, capacete, joelheiras, luvas e cotoveleiras são peças fundamentais para a segurança do skatista. Mas é importante lembrar que quanto maior a velocidade da modalidade, mais danos pode causar, de lesões musculares a fraturas.
  • Se andar com equipamentos previne machucados, andar acompanhada ajuda a evitar acidentes mais sérios – como atropelamentos – e ajuda se precisar de primeiros socorros.
  • E, lógico, um companheiro skatista pode dar várias dicas sobre bases e manobras, tornando o rolé muito mais divertido.

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Onde andar em Joinville

Parque da Cidade

Rua Graciosa, Guanabara.

Praça Tiradentes

Rua Santa Catarina, Floresta.

Praça Alídio Pohl

Avenida José Vieira (Beira-rio), Saguaçu.

Storm Skate Park

Rua Blumenau, 1.794, América.

Escolha uma modalidade

Street: envolve obstáculos, como corrimão, degraus, rampas, bordas etc.

Vertical: as manobras são feitas em rampas.

Freestyle: criação de manobras a partir da criatividade e experiência.

Down-hill: descer ladeiras em alta velocidade (speed) ou fazendo manobras de derrapagens no asfalto (slide).

Megarrampa: a modalidade envolve manobras dadas em alta velocidade em uma rampa realmente enorme.