A cada dia e a cada novo ato do governo, a situação da presidente Dilma Rousseff se deteriora. Que a nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil não era boa ideia, só os ministros petistas não viram. A cerimônia de posse, no entanto, comprovou que ele está longe de ter o dom de ajudar o governo a sair da crise. Ao contrário dos tempos da alta popularidade, Lula não conseguiu reunir diferentes líderes políticos e empresariais para prestigiá-lo. Pelo contrário. O público da cerimônia se limitou a ministros, militantes, simpatizantes e movimentos sociais. Em nome do PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer, faltou.
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A presidente Dilma mergulhou em uma guerra aberta contra o juiz Sergio Moro em razão da liberação dos grampos. Discurso que provocou a reação de procuradores e juízes. Para o público que vai às ruas pedindo o impeachment, Moro é herói. A antipatia contra Dilma, portanto, só cresce. Para completar, juízes concederam a liminar para suspender a posse de Lula. O governo recorre, mas há outras tantas semelhantes no STF. Em seu discurso, a presidente afirmou que, pelos brasileiros, ela e Lula estão juntos outra vez. Mas na prática o governo parou de vez.
Aliás, ela aproveitou a posse dos ministros para fazer o discurso mais duro até agora:
– Não terão força para provocar um golpe – desafiava.
Enquanto isso, a Câmara escolhia a comissão do impeachment, que daqui por diante vai andar a passos largos. Além do PT e do PC do B, é difícil encontrar outro partido aliado que assegure fidelidade à presidente. Os mapas de votação estão sendo refeitos, com prejuízo para o Planalto. Quem conversa com os deputados aliados sai com a seguinte impressão: antes distante, o impeachment é cada vez mais real.
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VERGONHA, VERGONHA
O clima conflagrado das ruas se transferiu para o Palácio do Planalto graças a um infiltrado. Deputado do Solidariedade, o Major Olímpio (SP) se misturou aos parlamentares petistas e lideranças de movimentos sociais, que lotavam o Salão Nobre para aplaudir Lula e Dilma. Disposto a atrair os holofotes, o deputado arriscou a pele ao gritar a palavra “vergonha”, minutos antes de começar o discurso da presidente Dilma. Uma moça da plateia não hesitou em tapar a boca do parlamentar com a mão, em um ato de fúria. Os seguranças logo o cercaram, mas foi o deputado Dionilso Marcon (PT-RS) quem o escoltou até o elevador, evitando as reações indignadas.
– Ele ia apanhar. Ficaria ruim – explicou o gaúcho.
Ao entrar no elevador, o infiltrado sorriu e, maroto, piscou o olho para Marcon.
Por essas e outras, é que a presidente Dilma fez uma saudação especial ¿aos brasileiros de coragem¿ que estavam ali. A claque só não aplaudiu com entusiasmo quando a presidente falou em ajuste fiscal e controle de inflação.
AMARRADO
A escolha de Jovair Arantes (PTB-GO) para a relatoria da Comissão Especial do Impeachment é o resultado de duas noites de reuniões no gabinete do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O governo já começa com mais essa desvantagem.
IMPEACHMENT GAÚCHO
Dos cinco deputados gaúchos que integram a Comissão Especial, três vão votar a favor do afastamento da presidente da República. Os petistas Henrique Fontana e Pepe Vargas estão escalados para defender Dilma. Osmar Terra (PMDB), Jerônimo Goergen (PP) e Luiz Carlos Busato (PTB) são contra. Até ontem, os governistas apostavam que poderiam contar com o apoio de Busato, mas ele até já andava com o cartaz “Impeachment Já” no bolso.
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– Não deu para aguentar essa do Lula no ministério – disse o petebista que costumava votar com o governo.
O que a oposição vai fazer agora? Nada. Só vamos votar o impeachment. Esse governo se enrola sozinho!
Deputado federal Nelson Marchezan (PSDB-RS)
CONSPIRAÇÃO
A semana foi de sequência de jantares nos apartamentos funcionais de Brasília. Na terça-feira, o deputado Heráclito Fortes (DEM-PI) recebeu o senador José Serra (PSDB-SP), o ex-ministro Nelson Jobim e o ex-presidente do BC Armínio Fraga. Na pauta, a transição.
VELHOS AMIGOS
Condenado pela Justiça francesa por lavagem de dinheiro, procurado pela Interpol e símbolo nacional do “rouba, mas faz”, o deputado Paulo Maluf, integrante da comissão impeachment, foi um dos poucos integrantes do Partido Progressista a prestigiar a posse do ex-presidente Lula. Ele aproveitou para abraçar o velho amigo. Em 2012, Lula e Maluf apertaram as mãos ao fechar uma aliança pela prefeitura de São Paulo.
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TÔ FORA:
A cúpula do PP resiste ao desembarque, mas o deputado Jerônimo Goergen (RS) recolheu assinaturas para forçar a decisão com a convocação do diretório nacional. O encontro não tem data.