As últimas paralisações no sistema de transporte coletivo da Grande Florianópolis tencionam cada vez mais as relações entre empresários, trabalhadores e passageiros. O impasse foi mediado em julgamento do Tribunal Regional do Trabalho, em julho, mas falta consenso entre as partes, principalmente sobre a hora de intervalo.

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Atualmente, a maioria dos trabalhadores tem jornada de 6h20min, e é obrigada pelo Código de Legislação Trabalhista a parar por uma hora. Para motoristas e cobradores, que estão na ponta da operação do sistema – junto com os usuários – tanto tempo parado em terminais ou em pontos finais de linha não significa descanso, mas tédio, insegurança, fome e aperto.

No Terminal de Integração do Centro (Ticen), não há banheiros exclusivos ou uma sala de descanso. Os funcionários de todas as plataformas fazem intervalo nos bancos de madeira e contam com a gentileza do dono de uma lanchonete, localizada nos fundos da Plataforma A, que empresta o freezer e o micro-ondas para as refeições. Ali são guardadas cerca de 50 marmitas por dia, segundo a atendente Rosilene Maria do Carmo.

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– Eles poderiam ter um lugar para fazer as refeições, sem serem vistos por todo mundo. Se não fosse a gente, não sei como fariam – conta.

Faltam vagas

Nas escalas dos ônibus entre os horários de pico (de 6h30min a 8h30min e por volta das 17h30min), quando a circulação pelas quatro cidades da Grande Florianópolis diminui, estacionar o veículo próximo ao Ticen é um desafio diário para os motoristas do transporte coletivo.

– Quando o trânsito está trancado, a gente já chega estressado e em cima do intervalo, aí tem que procurar vaga – reclama um condutor da Transol, que não quis se identificar.

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Um terreno improvisado no acesso ao Terminal ou uma área ao lado da Passarela Nego Quirido são as soluções paliativas das empresas e do poder público. Distantes do Ticen, resta fazer o intervalo e até as refeições nos veículos, como no caso do motorista Jacó Resh, da Transol, fotografado nesta quarta-feira nos arredores do Terminal.

Nos pontos finais de linha, onde a espera chega a ultrapassar meia hora, a falta de banheiro é o maior problema, principalmente para as mulheres que trabalham no transporte.

Distância do Centro

O Terminal do Saco dos Limões, desativado em 2003, é a alternativa usada pelas empresas municipais para estacionar seus ônibus. Motoristas e cobradores aguardam pela próxima viagem por mais de uma hora, em uma sala de 9 m², equipada com micro-ondas, geladeira e TV, emprestada por um funcionário.

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Entre uma partida de dominó e outra para espantar o tédio, o motorista Carlos Domingos, há 18 anos na Transol, reclama da distância do Centro – cerca de 5 km.

– Aqui é melhor que o Ticen para descansar e comer, mas é longe de tudo. Não dá para pagar uma conta ou resolver alguma questão pessoal, como no Centro – diz.

O que diz a Prefeitura de Florianópolis

– O secretário de Mobilidade da Capital, Valmir Piacentini, disse que uma proposta foi encaminhada ao Sintraturb para transformar o Tisac em um estacionamento com centro de convivência para profissionais do setor, mas não houve retorno. O representante do sindicato dos trabalhadores, Deonísio Linder, nega que tenha recebido qualquer projeto.

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– Sobre a melhoria na infraestrutura dos Terminais, incluindo uma sala de descanso, refeitório e banheiro exclusivo no Ticen, o secretário disse que precisaria analisar de onde viriam os recursos. A Cotisa, empresa que administra a infraestrutura, informou que esse tipo de mudança não está prevista no contrato e qualquer alteração teria que ter uma contrapartida do município.

– Valmir disse não haver hipótese de oferecer infraestrutura nos pontos finais de cada linha.

O que diz o sindicato das empresas (Setuf)

– O representante Waldir Gomes defendeu que o único lugar com problemas de infraestrutura é o Ticen. Nos outros terminais ele acredita haver condições ideais para os trabalhadores, inclusive no Tisac.

Na área improvisada ao lado da Passarela Nego Quirido, o representante afirma que há banheiros químicos suficientes. Quanto ao tempo gasto para estacionar, que teria um impacto na hora de intervalo, Waldir disse que as empresas têm o compromisso firmado de pagar o tempo perdido como hora extra.

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