Desde 2017 a ONG Inspiring Girls Brasil realiza um trabalho para ampliar o horizonte profissional de meninas da rede pública de ensino de Florianópolis. Nesses menos de dois anos de atuação no país, quase 2 mil crianças e adolescentes foram atingidas e conheceram histórias inspiradoras de mulheres que lutam em busca de um lugar em meio a profissões consideradas masculinas como nas áreas de engenharia e tecnologia. Para ajudar nesse trabalho, que cresce a cada dia, a ONG lançou um site que conecta ainda mais as escolas, empresas e mulheres que atuam nesse mercado de trabalho.

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A plataforma permite o cadastro de escolas interessadas em levar o assunto para a unidade e mulheres que querem servir como inspiração para as novas gerações. Empresas que desejem contribuir com o empoderamento feminino e abrir suas portas para essas meninas e mulheres podem entrar em contato, além de ajudar financeiramente.

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Representante da ONG no Brasil, Corinne Giely Eloi afirma que os dados sobre a ocupação da mulher em algumas profissões são preocupantes. Segundo ela, no país, menos de 10% dos profissionais são mulheres na área de engenharia. No setor de tecnologia são menos de 15%. Já em relação aos cargos de chefia, apenas 4% são do sexo feminino, sendo que as mulheres representam 54% da população.

— Os dados são assustadores e, por isso, nós temos que nos engajar ainda mais nesta causa – diz Maçan Guedes, voluntária.

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A ONG foi fundada na Inglaterra em 2016 e atualmente está presente em outros 10 países. No Brasil, foi trazida por Corinne em 2017 com a intenção de reunir meninas de 10 a 15 anos com mulheres que servem de inspiração profissional.

A escolha profissional

Começar esse trabalho ainda na escola, com meninas muito novas, tem um embasamento no trabalho realizado por Corinne há muito anos. Ela desenvolve capacitação de mulheres para a liderança chamado Springboard. Foi durante esse programa que percebeu que a escolha profissional ocorria, muitas vezes, ainda na infância, antes dos seis anos, e refletia a educação machista e patriarcal recebida.

— Isso também repercute ao longo da vida profissional, pois essas mulheres ficam silenciosas, invisíveis, sem querer muito o poder dentro das empresas. Os dois projetos se complementaram, porque temos que impactar as meninas jovens para que elas entendam que precisam ter sonhos, mais responsabilidades, independência econômica — analisa Corinne.

Com a ideia na cabeça, Corinne entrou em contato com Maçan e outras mulheres da Grande Florianópolis para colocar o trabalho em execução. O projeto foi apresentado à Secretaria de Educação de Florianópolis, analisado e aprovado. Atualmente, a ONG marca encontros com mulheres inspiradoras dentro das escolas e também leva essas meninas para conhecerem as empresas e o dia a dia dessas profissionais.

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Inspiração para mudar realidades

Após os encontros, um mundo novo se abre para a maioria das meninas participantes. Maçan conta que muitas delas nem sonham que existem profissões tão diversas nas áreas de tecnologia e engenharia e que todas podem exercer, se assim quiserem.

— O que mais acontece depois dos encontros é as meninas ficarem inspiradas e quererem mais para suas vidas — comenta.

Por isso, a ONG também cria uma ponte entre as jovens e as empresas de tecnologia existentes em Florianópolis, que oferecem estágio e programa Jovem Aprendiz e estão engajadas com o empoderamento feminino.

— Não são todas as meninas que são interessas por engenharia e tecnologia, mas pelo menos isso vai ampliar o horizonte delas e aumentar a percentagem de meninas interessadas — diz Maçan.

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Um longo caminho a percorrer

O trabalho da ONG de preparar as meninas para o mercado de trabalho, quebrando barreiras e preconceitos, passa também por dentro das empresas. Segundo Corinne, as organizações ainda não estão preparadas para receber as mulheres que ocupam cargos na engenharia e tecnologia, profissões ainda vistas como masculinas.

— São áreas onde as mulheres sofrem muita discriminação, ouvindo dos próprios diretores e colegas que a empresa está baixando o nível ao contratar uma mulher, e até nas universidades, onde os professores da engenharia dizem que elas erraram de sala, porque engenharia não é lugar de mulher. Isso existe e o tempo todo — relata.

Segundo ela, só na Capital catarinense, há muitas empresas de tecnologia com vagas abertas e sem profissionais para ocupá-las. São muitas oportunidades de emprego, salários bons, mas onde muitas mulheres acabam discriminadas e saindo das empresas por não aguentarem o machismo.

— As empresas não trabalham essa questão de acolher as mulheres nesse ambiente corporativo. Elas entram e saem porque o ambiente não é preparado para recebê-la. Eu vejo mulheres muito competentes dizendo que não aguentam mais as piadas todos os dias. Por isso é preciso trabalhar com essas empresas também.

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Como participar e ajudar

* Escolas municipais e estaduais de Florianópolis e região interessadas em levar mulheres inspiradoras para conversar com alunas de 10 a 15 anos, para falar sobre profissões nas áreas de engenharia e tecnologia, podem se inscrever diretamente no site www.inspiring-girls.com.br ou pelo e-mail corinne@inspiring-girls.com.

* Profissionais que querem servir como inspiração para as jovens e contar sua história também podem se inscrever na plataforma. O mesmo vale para empresas e qualquer pessoa que queira ajudar financeiramente a ONG.

* Segundo Corinne, a instituição ainda tem dificuldades de transporte para levar as alunas até as empresas ou algum espaço diferente para os encontros. Para ajudar nesse sentido, doações também podem ser feitas pelo site.