As últimas armas químicas de Damasco declaradas à comunidade internacional finalmente deixaram a Síria nesta segunda-feira, após meses de atraso, conforme anunciou a Organização para a Proibição de Armas Químicas.

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– Neste momento, o barco (que transporta as armas químicas) acaba de sair do porto de Latakia. O escoamento dos estoques de precursores e outros produtos químicos era uma exigência fundamental do programa para eliminar as armas químicas da Síria – declarou o diretor executivo da OPAQ, Ahmet Uzumcu, falando à imprensa em Haia.

A Síria já havia se desfeito de cerca de 92% das 1,3 mil toneladas de armas químicas que declarou sob um acordo russo-americano endossado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que previa a destruição de todo o arsenal químico sírio até 30 de junho.

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Após vários meses de atraso, os 8% restantes deixaram o porto de Latakia nesta segunda-feira em um navio dinamarquês que deve transportar os produtos mais perigosos até um navio americano especialmente concebido para realizar a sua destruição.

Os produtos tóxicos restantes estão em um mesmo local, onde foram armazenados há várias semanas, mas não podiam ser retirados por razões de segurança, segundo as autoridades sírias.

– A situação de segurança mudou e o governo sírio decidiu agir – declarou Ahmet Uzumcu.

O governo sírio confirmou por sua vez o transporte do material, enquanto Sigrid Kaag, a coordenadora da missão ONU-OPAQ encarregada do processo, elogiou o fim “do trabalho mais perigoso em termos de segurança no contexto da retirada de armas químicas da Síria”.

– Esperamos que nossa contribuição represente algo de significativo para o povo sírio e a região – declarou em um comunicado.

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A Rússia, principal aliada do presidente Bashar Al-Assad, saudou nesta segunda-feira “com grande satisfação o fim bem-sucedido da operação internacional, inédita e em grande escala, de retirada de todos os componentes das armas químicas da Síria”, indicou o Ministério russo das Relações Exteriores em um comunicado.

“No espírito de uma parceria estratégica, as forças navais russas e chinesas, em cooperação com navios militares dinamarqueses e noruegueses, garantiram nestes últimos seis meses a segurança da fase marítima da operação de retirada das armas químicas tóxicas do porto sírio de Latakia”, indicou o comunicado do ministério, acrescentando que, com isso, cerca de 1,2 mil toneladas de armas tinham sido transportadas.

A Síria aderiu à Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas em outubro de 2013 como parte de um acordo entre os Estados Unidos e a Rússia, que evitou uma intervenção militar americana após Damasco ser acusado de usar gás sarin em um ataque que provocou mais de 1,4 mil mortes.

A guerra civil na Síria já matou mais de 150 mil pessoas desde março de 2011, e a violência não dá sinais de trégua. A destruição das armas químicas se dará após vários meses de atraso no acordo. Assim, será impossível cumprir o prazo de 30 para que as armas químicas da Síria sejam eliminadas.

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O processo de destruição por hidrólise a bordo do navio americano, o Cape Ray, não pode começar até que todas as armas químicas estejam a bordo. A destruição no Cape Ray deverá durar até 60 dias, e a maioria dos produtos químicos serão destruídos nos próximos quatro meses na Finlândia, Estados Unidos e Reino Unido, segunco Uzumcu.

Apesar do anúncio desta segunda-feira, a questão das armas químicas na Síria está longe de ser concluída.

– Esperamos esclarecer em breve certos aspectos da declaração síria e iniciar a destruição de certas estruturas usadas para produzir armas químicas – declarou Uzumcu.

O regime do presidente Bashar al-Assad e os rebeldes se acusam mutuamente de continuar a utilizar agentes químicos no conflito, apesar da promessa de Damasco sobre a destruição de seu arsenal químico. Os resultados preliminares de uma investigação da OPAQ na Síria apontam que armas químicas como o cloro podem estar sendo utilizadas “sistematicamente”.

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O status do cloro como uma arma química é ambíguo. Ele pode ser usado como uma arma, mas é, antes de tudo, um agente industrial amplamente utilizado. A sua classificação como uma arma química no âmbito da Convenção Internacional não é necessária, e, portanto, a Síria não tinha a obrigação de informar a comunidade internacional.

*AFP