O governo da Síria aprovou neste sábado (10) o plano de trégua anunciado por Rússia e Estados Unidos, que pode resultar em uma campanha militar dos dois países contra os extremistas, enquanto a oposição demonstra sua cautela.
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Enquanto os diplomatas vendiam o acordo como o caminho para a paz, porém, neste sábado, vários bombardeios aéreos deixaram 58 mortos e dezenas de feridos na cidade de Idleb, noroeste da Síria, além de 12 civis mortos nos bairros rebeldes de Aleppo (norte) e outras 18 vítimas da mesma províncias, segundo números do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
O Observatório informou que não é possível determinar a autoria dos ataques e que alguns corpos “ficaram tão queimados que estavam irreconhecíveis”.
Um fotógrafo da AFP na cidade viu homens escalando os escombros, apenas com chinelos ou sandálias, para ajudar a retirar os feridos, moradores e crianças cobertos pela poeira de um prédio derrubado. Os ataques também destruíram lojas e carros.
Na semana passada, investigadores da ONU disseram que o bombardeio aéreo por parte das forças sírias e de seu aliado russo, principalmente em Aleppo e em Idleb, estavam causando enormes baixas de civis e destruindo infraestruturas vitais.
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O acordo assinado na sexta-feira (9) entre o secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, entrará em vigor na segunda-feira (12), primeiro dia da festa muçulmana do Eid al-Adha.
A agência estatal de notícias síria Sana informou que “o governo aprovou o acordo, e o fim das hostilidades começará em Aleppo por razões humanitárias”.
Ao citar “fontes informadas”, a Sana destaca que o “acordo completo foi alcançado com o conhecimento do governo sírio”.
“Essa trégua pode ser mais eficaz do que a precedente, porque pode deter os bombardeios (do governo sírio) contra os civis e a oposição”, afirmou o enviado americano para a Síria, Michael Ratney, referindo-se ao acordo anterior entre Moscou e Washington, de fevereiro passado, violado há poucas semanas.
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Como explica Ratney, os combates devem parar na segunda-feira (12), às 19h locais (13h, horário de Brasília), para uma primeira trégua de 48 horas.
O Alto Comitê de Negociações (ACN), que reúne os principais representantes da oposição e da rebelião sírias, informou que aguarda o texto oficial e celebrou com prudência.
“Damos as boas-vindas ao acordo, caso seja aplicado”, afirmou neste sábado Bassma Kodmani, integrante do ACN, acrescentando que “estamos esperando que a Rússia convença o governo, algo necessário para pôr o acordo em marcha”.
As duas potências apoiam lados opostos no conflito: Moscou respalda o regime do presidente Bashar al-Assad, enquanto Washington auxilia a coalizão de rebeldes que considera moderados.
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Os chefes da diplomacia de Estados Unidos e Rússia anunciaram o plano após uma reunião de mais de 12 horas na sexta-feira, em Genebra, em uma nova tentativa de acabar com o conflito que deixou mais de 290.000 mortos e obrigou milhões de pessoas a fugir para Líbano, Turquia e União Europeia.
– Janela de oportunidade –
Tanto Kerry como Lavrov afirmaram que o plano complexo é a melhor oportunidade para acabar com a guerra entre o regime e os rebeldes, além de seguir atacando os extremistas da Frente Al-Nusra, antes vinculada à Al-Qaeda, e do grupo Estado Islâmico (EI).
A delicada questão da saída de Bashar al-Assad permanece em aberto. As potências ocidentais desejam que o presidente sírio abandone o cargo, mas a Rússia o apoia.
Um ponto-chave do acordo é a entrega de ajuda humanitária aos civis que vivem nas áreas controladas pelos rebeldes em Aleppo, segunda maior cidade da Síria, cercada pelo governo.
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Moscou também precisa convencer a força aérea síria a interromper os bombardeios das zonas controladas pelos rebeldes, enquanto Washington terá de conseguir que os grupos da oposição se desvinculem da antiga Frente Al-Nusra, agora chamada Frente Fateh al-Sham, que se aliou aos rebeldes em diferentes pontos do conflito.
Kodmani disse que os rebeldes devem romper os laços com os extremistas, se a trégua persistir.
“Os grupos moderados se reorganizarão e se distanciarão dos grupos radicais. Cumpriremos a nossa parte”, declarou.
Para o analista Charles Lister, do Middle East Institute, os principais grupos rebeldes observam com desconfiança os diálogos entre Rússia e Estados Unidos e parecem relutantes a se separar dos extremistas, caso o cessar-fogo não se confirme.
“Os rebeldes enfrentam agora a maior e mais crucial decisão desde que pegaram em armas contra o regime de Assad em 2011”, disse o analista.
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O enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, declarou que o pacto significa uma “janela de oportunidade” e que pretende iniciar consultas com as partes para reativar os diálogos de paz.
Ao mesmo tempo, o Exército israelense informou que abriu fogo contra posições militares sírias, depois da queda de um “projétil” procedente da Síria nas Colinas de Golã, ocupadas por Israel. Esse foi o terceiro acidente similar em menos de uma semana.
burs-dc-ram/fp/tt