Quando escreveu pela internet uma mensagem ao juiz da Vara de Execução Penal em Joinville, o menino de 11 anos que agradecia por ter passado os últimos dias de vida da mãe na companhia dela -uma apenada doente e em estado terminal que ganhou o direito à prisão domiciliar – chegou a pensar que João Marcos Buch talvez “só desse uma olhadinha” no recado diante de tantos casos e processos para dividir as atenções em seu gabinete.
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Mas as palavras do garotinho não só sensibilizaram o magistrado, que se correspondeu com ele e o convidou para acompanhar uma palestra já agendada, como também repercutiram nos noticiários locais e nacionais depois de a história ser contada por “A Notícia”, ainda na terça-feira, na versão online do jornal.
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O telefone na casa da avó, que havia formalizado ao juiz o pedido de prisão domiciliar para a mãe do neto dela, sua nora, passou a tocar mais do que o costume. Eram pedidos de entrevistas e contatos de pessoas que queriam conhecê-lo e ajudá-lo, se fosse necessário. Já havia a expectativa, diz a avó, de que a procura acontecesse por intermédio do Fórum.
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Mas, cautelosa, ela fez um trato com o neto: apesar de o anonimato dele ser protegido por lei, a história da família só precisaria ser contada enquanto ele quisesse. Foi quando o menino deu mais uma prova de maturidade, acrescenta a avó. Ele decidiu que as últimas lembranças da mãe, em momentos felizes ao lado dele e do irmão caçula desde as comemorações de fim de ano até falecer no mês passado, poderiam servir como o exemplo de um recomeço, ainda que tenha durado pouco tempo.
Cedo demais, ele aprendeu que existe algo chamado Justiça e que por força disso, talvez, sua mãe tivesse de voltar ao presídio quando recebesse alta no hospital. Só que também aprendeu da melhor forma que existem segundas chances.
– É disso que eu quero lembrar. Eu também mudei. Falava que queria ser médico, mas não me esforçava. Agora que ela se foi, até estou me esforçando mais. Morando com a minha avó, meu pai trabalha. Estou tentando ser um pouco mais forte, né? Sinto bastante saudades dela. Sei que ela está me visualizando em todas as ocasiões -conta o pequeno, num raciocínio um tanto precoce para quem só tem 11 anos.
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Enquanto conversavam com a reportagem na quinta-feira, o telefone na casa tocou mais uma vez. Algo em torno daquele telefonema deixava a avó e o neto com os corações apertados. Mas, ao fim da ligação, veio o alívio.
-Tá tudo bem, tá? Teu pai tá vindo para casa – falou a vó.
Em liberdade condicional desde dezembro, o pai da criança esteve numa audiência judicial em Palhoça. Conforme foi informado à família, a sessão precisou ser remarcada porque testemunhas faltaram, mas ele pôde voltar a Joinville e seguir com os trabalhos de servente de pedreiro.
O que toda criança precisa
O que toda criança precisa parece estar ao alcance do menino que sonha em ser médico. Estuda numa escola municipal, pratica artes marciais e até tem planos de cursar inglês (ele admite que poderia estar melhor no idioma, porque gosta mesmo é de matemática). Mas basta perceber a atenção da família para descobrir que vem dali o sorriso fácil.
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A avó é uma coruja cheia de elogios. E o pai, além do carinho, tem dado o exemplo com o trabalho e nem sequer bebe mais. Há preocupação especial com a saúde do pequeno, soropositivo desde nascença. Mas nada que o impeça de ter uma vida completa.
– Faço taekwondo, educação física, jogo bastante bola. Brinco bastante no recreio, tento me concentrar bastante na sala de aula. O que todo mundo na minha idade faz – comenta.
Para preservar a identidade da criança, os nomes na mensagem foram omitidos.
Confira a mensagem do menino encaminhada ao juiz: