A declaração do prefeito Udo Döhler (PMDB) de que o governo municipal não vai ter margem de manobra para reajuste salarial dos servidores em 2015 repercutiu mal no Sindicato dos Servidores Públicos de Joinville (Sinsej). Praticamente 90 dias antes da data-base para o sindicato iniciar a fase de negociações, a afirmação do prefeito surge num cenário em que o servidor esperava justamente o contrário. Ao menos é o que defende o presidente do Sinsej, Ulrich Beathalter.

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– O servidor entrou em 2015 com boa parte do seu salário corroído pela inflação. Num momento assim, dizer com tamanha antecedência que não existe espaço para negociação é um tiro no pé – diz Ulrich, repercutindo informação que o colunista de Economia Claudio Loetz publicou na edição de quinta-feira de “A Notícia”.

De acordo com Udo, a realidade macroeconômica obriga o governo municipal a impor redução de valores dos repasses constitucionais referentes aos tributos da União (Imposto de Renda e Fundo de Participação dos Municípios) e do ICMS estadual, a ser repartido entre todos os municípios catarinenses.

Em comunicado oficial, o sindicato questiona se o anúncio do prefeito é parte de alguma estratégia para as negociações deste ano, defendendo que, ao invés de amedrontar os servidores, conseguiu irritar mais ainda a categoria.

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– Se foi um “deslize” da sua comunicação, esperamos que a divulgação seja corrigida. Se essa for de fato a postura da Prefeitura, a fim de ditar o tom das negociações deste ano, então não teremos outra opção se não responder na mesma altura e no mesmo tom.

O sindicato acredita que a reposição da inflação está fora desta discussão e chegará normalmente ao servidor. No histórico recente das reivindicações do Sinsej para a Prefeitura de Joinville, o sindicato costuma negociar com o Executivo reajustes que abrangem a inflação somada a um percentual definido na pauta sindical.

Reforma preocupa

Ulrich também reclamou do fato de o prefeito já estar planejando uma terceira reforma administrativa para sua gestão, menos de seis meses depois de a segunda ter sido anunciada.

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– Udo anunciou a fusão e a transformação de fundações em secretarias. Só a Secretaria de Educação incorporaria a Fundação de Esportes, a Fundação Cultural e o Turismo. Aparentemente, o prefeito quer transferir arte, esportes e turismo para o financiamento da educação, o Fundeb. Se já temos problemas imensos na rede regular de ensino, imagina com a absorção de mais custos – disse o presidente do Sinsej.

O que pesa na decisão do Executivo

De 2014 para 2015, a receita projetada para gastos com folha de pagamento da Prefeitura de Joinville teve um aumento de 8,71 pontos percentuais, 1,6% acima da inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) prevista para o mesmo período, que deve ficar pouco acima dos sete pontos. De acordo com Ulrich, isso demonstra um certo conforto nas contas municipais, o que conflita com a versão da Prefeitura, de que não há margem para negociações.

O secretário municipal da Fazenda, Nelson Corona, fez coro à fala do prefeito explicando que no ano passado, os gastos com a folha de pagamento (R$ 708 milhões) pesaram mais do que o normal para a administração municipal, e que por isso a margem de diálogo para este ano encolheu.

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– Não haverá dinheiro para atender a todas as demandas e pedidos que serão protocolados – reforça o secretário.

Do outro lado da mesa, Ulrich defende que a ausência de um reajuste representaria um impacto direto no poder de compra de mais de 12 mil famílias, algo que não acontece sem refletir um forte dano colateral na economia municipal.

– Estamos comprando menos, pois os preços subiram e o salário não. Tem de existir negociação, sim.

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