Dirigente da federação sindical internacional BWI, que congrega 328 sindicatos do setor de construção e extrativismo em 130 países, o sul-africano Eddie Cottle coordenou uma campanha que, em julho de 2009, resultou na paralisação de cerca de 70 mil operários na construção dos estádios para a Copa. Autor do livro “Copa do Mundo da África do Sul: um legado para quem?“, sem lançamento previsto no Brasil, Cottle passou meses em terras brasileiras nos anos de 2011 e 2013, quando tentou dialogar com os sindicatos nacionais. O sindicalista falou com Zero Hora.
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– Quais são as diferenças entre os protestos que aconteceram na África do Sul e os que estão ocorrendo no Brasil?
No Brasil, as manifestações foram espontâneas. Começou com a população reclamando sobre algo (aumento passagem do ônibus) e acabou tomando proporções gigantescas. Aqui na África do Sul, os protestos foram articulados e envolveram os operários da construção civil, que fizeram greve para assegurar os seus direitos e evitar a exploração que acontece quando construções monstruosas, como os estádios, precisam ser feitas em um curto período de tempo. Já no Brasil isso não aconteceu. O movimento do sindicato dos operários brasileiros foi muito fraco.
– Por que você acha que os sindicatos do Brasil não escutaram os seus conselhos?
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Na minha opinião, e eu posso estar errado pois não sou brasileiro, os sindicatos do Brasil tem uma ligação muito forte com o Partido dos Trabalhadores (PT). Eles ficaram com medo de expor o governo. Eu acho que essa não é a forma de conduzir a luta pelo direito dos trabalhadores e isso coloca em questionamento a legitimidade dos sindicatos. As uniões trabalhistas devem ser independentes, caso contrário elas protegem os interesses do governo. Isso é um problema para a juventude.
– Por que para a juventude?
Pois eles perdem a confiança nos sindicatos, mas querem ter seus direitos garantidos e questionar o governo. E aí eles correm para onde? Para movimentos como o do Black Blocs, que vão longe demais e recorrem ao anarquismo e ao vandalismo.