A amizade e a simplicidade são as características mais marcantes do lageano. Arrisco até a dizer que o frio da Serra contrasta com o calor dos nossos corações. Cresci numa família humilde e muito unida. Meu pai – comerciante e pecuarista – tinha o Armazém Colombo, no Centro da cidade. Mas não era apenas um local para venda de produtos. Com o passar do tempo o comércio se transformou no ponto de encontro de amigos.
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No sobrado da Rua Quintino Bocaiúva, o armazém ocupava o andar térreo, e no piso superior era a nossa casa onde eu e mais nove irmãos tivemos uma vida privilegiada, cheia de sabores e emoções. Uma das peças da casa que mais me encantava era a radiola, objeto de cuidados do meu pai. Minha mãe, com aquele jeitinho que só as mães têm, me ensinou que a simplicidade é o caminho para enxergar a beleza das coisas.
Lages para mim é mais do que a cidade que nasci. É uma janela para as lembranças mais caras da minha infância. O cheirinho do pão quentinho feito pela mãe, a sopa reconfortante depois de um dia que se dividia entre a escola, as brincadeiras e uma ajudinha no armazém, que era o ganha-pão da família. Lembro que, nas noites frias, todos nos juntávamos perto do fogão à lenha para comer pinhão na chapa. Confesso que essa é uma das coisas que mais gosto de fazer até hoje.
A região serrana tem algumas particularidades. Claro que a vida moderna, com todas as suas coisas boas e ruins, também chegou lá, mas ainda é possível ter uma boa qualidade de vida. Em Lages, estresse se cura com um passeio pelo campo ou uma boa conversa com um amigo.
Cada vez mais vejo as pessoas em busca de simplicidade, porque nossa rotina é complexa e cansativa. Imagine abrir a janela numa manhã ensolarada e ver uma paisagem como a da Coxilha Rica, que, além da sua beleza geográfica, conta a história de homens de garra e coragem que abriram estradas, contribuíram para o nascimento de cidades. Ver aquelas araucárias imponentes riscando a paisagem, o riacho de pedras, a divisão de terras feitas por taipas, num trabalho que beira uma obra de arte.
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Lageano gosta de conviver, gosta de receber bem os visitantes. Em torno disso é que vem o desenvolvimento econômico, as oportunidades. Acho que a nossa filosofia de vida, esse nosso jeito quieto e carinhoso de ser tem atraído muita gente, não só para conhecer o frio e se deliciar com nossa gastronomia, mas para morar e investir na cidade. E, como está expresso no Hino de Lages, nossos sorrisos são sempre de amor.
* Governador de Santa Catarina, nasceu e mantém raízes em Lages, cidade onde viveu uma infância tradicionalista.