Para uma parcela significativa dos leitores, o jornal (aquela versão impressa, entregue em casa ou no escritório nas primeiras horas da manhã) traz um conjunto de notícias que devem ser assimiladas a cada dia. As características de tal conjunto, no entanto, variam de uma pessoa para outra.

Continua depois da publicidade

Há os que se contentam com um rápido passar de olhos pelos títulos, para garantir uma pretensa atualização (sobre o que se fala, mas não exatamente o que se diz) e outros que se enfronham nas estatísticas e comentários do esporte; há os que se deliciam com os bastidores da política (de uns tempos para cá, com um instigante viés de crônica policial) e os que procuram projeções (mas com mais frequência encontram frustrações) sobre as andanças econômicas; há os que colecionam óbitos e os mais diversos indicadores de violência, enquanto seus pares avançam nas páginas em busca de alguma história que os inspire.

Leia as últimas notícias de Joinville e região.

Existe também, neste universo, um grupo de pseudoleitores. Como dois irmãos aposentados, para quem o verdadeiro atrativo são as palavras cruzadas. Seus familiares até argumentam que não é preciso assinar um jornal, quando existem tantas outras publicações que concentram apenas este tipo de passatempo e em grande escala. Os irmãos discordam e apresentam argumentos que até parecem convincentes.

As cruzadas do jornal, dizem, proporcionam a ambos uma experiência similar e simultânea, que precisa ser compartilhada.

Continua depois da publicidade

— Isso que vocês fazem a todo instante nos seus celulares, no Face, no Whats e no Insta, nós fazemos a cada dia em uma visita (que se o tempo estiver muito ruim, pode ser substituída por uma ligação telefônica).

Esta conversa, explicam, começa com uma avaliação geral do grau de dificuldade do passatempo (sobre a qual geralmente concordam); continua com a lista de vocábulos desafiadores (na maioria das vezes também muito parecida).

O conjunto de sintonias, aliado à perda gradual da memória, acaba por afugentar uma série de discordâncias ocorridas durante anos. E favorece a bem-vinda redescoberta de umas poucas interseções ao longo de suas vidas.