Outro dia, num anúncio impresso de uma revista semanal, deparei com uma imagem singela que diz muito sobre as várias nuances de uma vida. Lado a lado, três mãos, em diferentes estágios da existência; três histórias, com suas sintonias e dissonâncias, desenvolvidas a partir de uma mesma origem.

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Uma cena que dispensa explicações, independentemente de etnia, época e lugar. Três dimensões do tempo – presente, passado e futuro – captadas em um único retrato. Supondo um improvável diálogo, comentariam entre si:

– Eu sou você amanhã (ou eu fui você ontem);

– Lembro com saudades do que já vivi (ou aguardo com ansiedade o que ainda espero encontrar pela frente);

– Tenho um amplo universo de possibilidades (ou sou o resultado de umas poucas escolhas e outras tantas renúncias feitas ao longo dos anos).

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Mãos que, ao compartilharem uma parcela de suas cargas genéticas, completam-se na construção diária das respectivas trajetórias, por meio da qual formam e guardam sentimentos e impressões a respeito do mundo.

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Mãos que, ainda muito pequenas, tateiam as formas em busca de novas descobertas; que pouco tempo depois concentram suas energias em aprendizados; mãos que, já bem formadas e encorpadas, exercem as habilidades desenvolvidas ao longo de muitas horas de treino e dedicação; mãos calejadas, que esbanjam sabedoria e clamam por atenção e ajuda; mãos de todos os tamanhos, que acodem, ensinam, afagam, orientam… ao mesmo tempo que sinalizam nossa condição de eternos passageiros.

Sim, porque, diferentemente de como costumamos nos expressar, estamos (e não somos) crianças, adultos ou velhos. E as mãos, sempre elas, com suas formas, com sua aparência e com o cuidado com que foram tratadas (ou com a falta dele) são o que melhor reflete o quanto de esforço nos foi necessário para o tanto da experiência que acumulamos.

Mãos que reforçam nossas muitas semelhanças enquanto seres humanos, ao mesmo tempo que também trazem evidências de nossas pequenas diferenças – aquelas que fazem de cada um de nós indivíduos tão singulares. Mãos capazes de promover a paz ou incitar a discórdia; oferecer ajuda ou negar consolo; ser instrumento do bem ou agente do mal.

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Mãos que tudo podem, mas não têm vontade própria: só colocam em prática os melhores e os piores desígnios recebidos de nós.