Às vezes, o simples ato de assistir à televisão pode despertar emoções que preferiríamos que não existissem (ou pelo menos que pudéssemos disfarçar melhor nosso convívio com elas).

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Outro dia, nos intervalos do telejornal noturno, fiquei incomodada com uma propaganda do site de um aplicativo sobre futebol. Um ator anunciava filmes imperdíveis ou lugares fantásticos para em seguida frustrar o desejo recém-despertado no espectador, informando que ele não iria conhecê-los. Por quê? Para ficar em casa escalando seu time de futebol preferido. No aplicativo, é claro.

O que pode ter sido visto como um toque de humor pelos amantes da bola, soou como uma afronta para alguém como eu, que sempre achei perda de tempo passar boa parte da vida acompanhando os jogos do Estado, do Brasil e do mundo, uma temporada após a outra. “Como é que o cidadão se apropria do argumento que eu sempre usei para defender justamente o contrário?”, desabafei, indignada, com meu filho.

Mal começou o segundo bloco do telejornal, o apresentador chamou a matéria obrigatória nesses tempos que antecedem as Olimpíadas – o trajeto diário da tocha. O menino, mostrando que indignação é algo que também se passa de mãe para filho, sentiu-se no direito de manifestar também sua contrariedade. “Por que eles falam dessa notícia chata todo dia se ninguém está interessado em saber?”

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Apesar da pouca relevância dos temas em questão, fomos os dois intolerantes, nos recusando a aceitar algo que não estava ao nosso alcance impedir. Como aconteceu naquela noite, nem sempre nos damos conta de que a falta de tolerância que gera discórdia entre os povos e está na raiz de muitas guerras é o mesmo sentimento que se apresenta em atos aparentemente insignificantes do nosso dia a dia.

Não percebemos que, se não toleramos algo, é porque isto não faz parte das nossas preferências, é contrário aos nossos princípios ou não combina com nosso modo de ser ou de investir nosso tempo. Temos o péssimo hábito de procurar à nossa volta ressonância para aquilo que acreditamos (e as redes sociais, com seus direcionamentos, só reforçam nossa tendência de atrair o semelhante). Mas se queremos mais tolerância no mundo, temos que desafiar-nos a conviver com o diferente. Começando pelo que é mais simples. Ou seja, por nós. Aqui e agora.