Aconteceu-me, certa vez, quando estava no 19º andar de um prédio de escritórios, concentrada em afazeres profissionais que me apartavam do passar das horas, das nuances do clima e das ocorrências mundanas que se desenrolavam lá fora.

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Tudo começou quando fiz uma breve pausa nas atividades para dar uma passada no banheiro. A intensidade da algazarra que misturava vozes, gritos e brincadeiras infantis, dezenas de metros abaixo, explodiu nos meus ouvidos e transportou meu espírito para o centro do pátio da escola vizinha.

Saudades daqueles tempos, especialmente do recreio, que reunia os quinze ou vinte minutos mais esperados do período letivo. Passávamos a primeira metade do turno escolar na expectativa da chegada daquele momento mágico, que reunia o lanche, os jogos de amarelinha e de pega-pega, a troca de figurinhas e de informações privilegiadas que nos recusávamos a chamar de fofoca.

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Era tudo tão rápido que, quando chegava o fim do recreio, podíamos jurar que o ponteiro do relógio, só por sacanagem, havia avançado de um minuto para o outro levando bem menos tempo do que os sessenta segundos regulamentares.

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Retornávamos aos nossos lugares na sala de aula exaustos, suados e já fazendo os planos para o intervalo do dia seguinte. Era preciso, então, empreender um esforço dobrado para retomar a atenção na fala do professor e dar conta de entender o conteúdo das matérias.

Coisas importantes, diziam os nossos pais e os nossos mestres, que “precisávamos aprender para nos dar bem nas provas, passar de ano (e ganhar merecidas férias), chegar ao ensino médio, ser bem-sucedidos no desafio do vestibular e cursar uma faculdade que nos garantisse a atuação profissional quando nos tornássemos adultos”. Tudo isso, claro, depois de dias, meses e anos de aulas (e recreios).

O sinal estridente tocou, encerrando sem aviso prévio o recreio da escola e o meu passeio por esta realidade paralela, tão presente quanto distante. De volta, 19 andares acima, saí do banheiro apressada para retomar as urgências que ainda me aguardavam.