– Tive um imprevisto.

Aposto que não faz muito tempo que você disse esta frase. Ou a ouviu de alguém do seu relacionamento próximo (em casa, no trabalho, no happy hour) para justificar algo que não respeitou a forma ou o prazo esperados. Ou seja, foi realizado fora do tempo e do espaço que você havia destinado para tal.

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Não é assim que funcionamos? Da presença a um compromisso à entrega de algo prometido, passando por exatamente tudo o que fazemos (trabalhar, ir ao médico, sair de férias, visitar a família, fazer compras no mercado), delimitamos um espaço próprio na agenda, com data e hora marcados. Dependendo do tema, inclusive com mês e ano definidos.

Somos seres programáveis, aperfeiçoando constantemente a nossa técnica em busca da excelência. Evoluímos no hábito de planejar uma rotina detalhada para todas as frações de tempo de que dispomos, criando à nossa volta um mundo que funciona com a mesma lógica.

Cada vez mais, tudo de que precisamos conta com um serviço automático, que ocorre em período de tempo previamente definido (minimizando, de preferência, os pontos de contato entre seres humanos para não fugir do protocolo).

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“Bem-vindo ao atendimento tal. Sua ligação é muito importante para nós. O tempo de atendimento previsto é de cinco minutos… Muito obrigada por continuar aguardando. Agora, falta um minuto e meio para atendermos a sua ligação… Agradecemos seu contato com nosso serviço de atendimento eletrônico. Se você quiser isso, tecle 1. Se preferir aquilo, tecle 2.” (Silêncio mortal).

E se o seu problema não estiver contemplado no rigoroso script do autoatendimento? Putz! Você está diante de um imprevisto. E aí vem o desespero.

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– Como é que os dirigentes desta ?grande? organização não foram competentes o bastante para enquadrar esta situação entre as necessidades que um usuário poderia ter? Isso é um absurdo!

Pois é, você e eu não estamos sozinhos. Como apontou o estudioso Francisco Madia no livro Megatrends 2016, “estamos perdendo a capacidade de reagir diante dos imprevistos, na medida em que tudo o que precisamos fazer é apertar botões” (e, acrescentaria eu, cumprir agendas).

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Como consequência, estamos reduzindo nossa tolerância com aquilo que foge do planejado. Quem nunca perdeu o controle com os inesperados da vida, que atire a primeira pedra.