Uma conversa em que você é, ao mesmo tempo, o emissor e o receptor, segundo o dicionário, seria mais bem traduzida como um monólogo. A palavra, no entanto, parece sofisticada demais para as frases, improvisadas e não verbalizadas, que rolam todos os dias dentro do nosso cérebro. Por isso prefiro denominar tais conversas com um termo mais informal: nossos papos.

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Confesso que, ainda que seja uma profissional de comunicação — quase sempre atenta a como as pessoas procuram tornar comuns os seus objetivos ao expô-los para os outros —, não tenho o hábito de parar para refletir no que eu digo de um lado e escuto de outro quando se trata de assuntos próprios, sem o envolvimento de terceiros. Esse cuidado sempre pareceu desnecessário, uma vez que o universo de significantes seria o mesmo.

Tal convicção foi pelos ares quando me deparei com a reportagem “Eu me amo”, da seção de “Comportamento” da revista “Donna” do final de semana, com uma interessante provocação: “Por que você é tão compreensiva e sabe como motivar uma amiga em dificuldades, mas nem sempre tem a mesma paciência consigo mesma?” O questionamento, feito pela coach Semadar Marques, foi absorvido com a força de uma bofetada.Segundo a especialista em inteligência emocional, muitas pessoas têm dificuldades de priorizar suas necessidades e vontades diante das tantas demandas que a vida apresenta. Semadar listou cinco outros passos básicos que me parecem assimilados: “Não se compare com ninguém”; “Priorize o que é bom para você”; “Aprenda a dizer não”; “Delegue sem culpa”; e “Respeite e apoie outras mulheres”. Mas o que me tocou fundo foi “Cuide do que fala para si mesma: estabeleça uma relação de companheirismo e camaradagem consigo, encorajando-se com as mesmas palavras e conselhos que daria a alguém muito querido”.

Prestar atenção à suavidade das palavras, ao excesso de cobranças, à autocamaradagem e à tolerância com os próprios tempos e limites em nossos papos pode ser um desafio (que parece gigantesco para o espírito crítico e perfeccionista de uma virginiana), mas é, com certeza, uma atitude mais que necessária para o bem-estar e a harmonia de qualquer pessoa.

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