Quem somos nós aos olhos daqueles que nos cercam? A preocupação com a opinião alheia dificilmente nos faz indiferentes. Uns mais, outros menos, somos influenciados pela aceitação social, por aquilo que os outros pensam e falam a nosso respeito. E, mais recentemente, pelo que curtem ou deixam passar sem manifestações de apreço nos nossos posts.
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É bom destacar que este não é um tema novo, surgido nestes tempos em que a maioria das pessoas vive em grandes agrupamentos humanos (tanto reais quanto virtuais). No século 17, o escritor francês La Fontaine já retratava a importância da opinião dos outros numa fábula rural que fez parte da infância de muitos de nós (e continua presente nas histórias que contamos às gerações que nos sucedem): “O Velho, o Menino e o Burro”.
A trajetória do trio começa com o velho e o menino seguindo pela estrada montados num burro. No caminho, os passantes dizem que é uma crueldade os dois serem suportados pelo pobre animal. Impressionado com os comentários, o velho pede ao menino que desça. A paz dura apenas até o próximo encontro, quando acusam o velho de explorar o pobre menino. O velho desce do burro e o menino monta em seu lugar. Mais uma vez, o arranjo não é suficiente para contentar as pessoas que cruzam o caminho. Como aquele menino, com sua juventude e energia, pode tirar o lugar do seu avô? Indignado, o velho decide que ele e o menino vão caminhar ao lado do burro – e tornam-se motivo de chacota por não aproveitar os benefícios do animal de carga.
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Agora, eis que uma nova ficção – no lugar de fábula, uma série – traz a questão da opinião alheia para nossa realidade tecnológica e conectada. E se a maneira como os outros nos avaliam nas mais diversas atividades fosse traduzida em notas na rede social, cuja somatória alta garantisse as melhores oportunidades de trabalho e as condições mais atraentes de consumo – mas, quando baixa, restringisse o acesso a lugares, produtos e serviços? É o que acontece em “Nosedive” (“Queda brusca”), primeiro episódio da terceira temporada de “Black Mirror”, ficção que explora limites do comportamento humano diante das novas tecnologias.
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Se a fábula de La Fontaine ocorresse neste cenário, o velho e o menino teriam de encontrar uma forma de conquistar a opinião favorável dos passantes. Sob o risco de não terem nota suficientemente alta para encontrar um comprador para o burro na cidade.