A virada do ano costuma suscitar algumas reflexões sobre a forma como ocupamos o tempo que nos é dado. Mais precisamente, sobre o que fizemos durante o período de 365 dias de 24 horas que a Terra levou para completar uma volta em torno do Sol. Enquanto há milhares de anos o planeta se concentra nesta atividade, singular e essencial, focamos no plural. Temos orgulho de colecionar feitos, conquistas e bens e nos preocupamos em traçar metas mais ambiciosas para o ciclo seguinte (vendo este gesto como uma forma de confirmar que somos seres em constante evolução).

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Até que uma inspiradora publicidade de boas festas (por ironia do destino patrocinada por um dos mais lucrativos bancos do País, mesmo na crise), destaca que “o segredo do tempo não está nas horas que passam, mas nos momentos que ficam; porque são eles que vão contar a sua história.”

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Bingo! Será que estamos construindo uma história singular diante das demandas plurais que ocupam boa parte de nossas energias? A resposta fica a critério de cada um, mas antes de defini-la, gostaria de propor uma reflexão adicional sobre o antigo ritual das cartas diante do volume excessivo e rápido de enviar e receber e-mails. Trata-se de um trecho do livro “Uma Breve História da Humanidade – Sapiens”. O autor é o israelense Yuval Noah Harari, doutor em história pela Universidade de Oxford.

“Antes, as pessoas só escreviam cartas quando tinham algo importante para relatar. Em vez de escrever a primeira coisa que lhes vinha à cabeça, consideravam cuidadosamente o que queriam dizer e como expressá-lo. Esperavam receber uma resposta igualmente atenciosa. A maioria das pessoas recebia e escrevia não mais de um punhado de cartas por mês e raramente se sentia compelida a responder de imediato. Hoje, recebo dezenas de e-mails todos os dias, todos de pessoas que esperam uma resposta imediata. Pensamos que estávamos economizando tempo; em vez disso, colocamos a roda da vida para girar a dez vezes sua velocidade anterior e tornamos nossos dias mais ansiosos e agitados.”

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Reformulando a pergunta, será que subtraindo os supérfluos de nosso plural ainda resta um conteúdo singular expressivo para contar nossa história de vida?