Atuando um dia após o outro no gerenciamento das palavras, percebe-se com clareza a mudança de comportamento das pessoas em torno do dito e do escrito, seja na comunicação do dia a dia ou no trabalho.

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Embora em ambas se utilize o mesmo instrumento – a língua, com seu imenso repertório de palavras -, mudam por completo os mecanismos de preparação, formatação e decisão que envolvem os rituais da fala e da escrita. Se o primeiro é espontâneo e flui por um caminho sem barreiras entre o cérebro e a boca, um conjunto de receios antecede o desenrolar do segundo.

A palavra que se escreve trava na mão, que descansa antes de registrá-la (avaliando as muitas variantes que poderiam substituir a opção inicial encontrada). Não raro, faz seu autor pedir aprovação superior, que ateste a eficácia prévia, ou, na pior das hipóteses, valide o correto direcionamento da intenção (o que se quis dizer) com o que de fato se apresenta (o que se lê e se entende a partir disto).

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O desconforto da escrita tem uma relação direta com sua perenidade e com os muitos destinatários que possa alcançar, mesmo que de forma não intencional. Enquanto a palavra oral se esvai (chegando a causar dúvidas a respeito do que se ouviu no instante seguinte), o registro firmado em papel ou documentado em meios eletrônicos pode ser multiplicado para um sem-número de leitores e revisto a qualquer momento. Dependendo do tema e do interesse das gerações futuras, é sério candidato a contribuir para os anais da história.

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Se o medo que precede a escrita não tinha correspondente na falta de receio e de comprometimento com que se soltavam palavras ao vento – na privacidade de uma conversa íntima ou no conforto de uma mesa de bar -, as circunstâncias atuais indicam mudanças.

Nos dias de hoje, cresce a probabilidade de haver um gravador a postos para o registro de uma fala. Um assunto privado pode tornar-se público. Algo que dispense explicações para um interlocutor próximo pode exigir um preâmbulo detalhado para outro(s) distante(s). A escolha e a entonação das palavras, o tom de voz, a cumplicidade com que se trava um diálogo – tudo pode indicar alguma coisa diferente do que se pretendeu dizer. Para evitar mal-entendidos, é preciso estar atento ao dito da mesma forma que sempre se esteve ao escrito.