Tenho conversado com muitas pessoas que estão assustadas com o fato de que amanhã já é novembro, e logo mais o ano se finda. Parece que há uma forte percepção coletiva de que nossos dias já não apresentam a mesma duração que costumavam ter alguns anos atrás. Pois o penúltimo mês do ano, mais do que um feriado logo em seu início, nos reserva um convite à reflexão sobre nossa condição — agora e num futuro que a gente nunca sabe se próximo ou distante.

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— Afinal, você sabe exatamente quem é e por qual motivo está aqui?

Diferentemente do que possa soar em um primeiro momento, o objetivo desta pergunta não é reunir as qualificações, títulos, status ou condições de poder que tornam o leitor “mais ou menos importante” hoje, e que na correria diária a maioria de nós tem o hábito de encarar como algo perene.

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O 2 de novembro é uma oportunidade para pensar sobre nossa essência — aquilo que de fato fica depois que cessa a existência física — dado que somos, todos, transitórios. Estamos interinos, no tempo e no espaço. Somos o presente, mas em algum futuro nos tornaremos o passado.

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Dizem que alguém só morre de verdade quando deixa de existir a última pessoa que tem dele alguma lembrança. A viúva do escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, fez uma sensível declaração sobre como era viver em torno da obra do romancista sem mais contar com a sua presença. “A vida é continuar uns aos outros. Hoje, estamos uns; amanhã, estamos outros. E assim vamos nos continuando”.

Ao que damos continuidade — ou recordamos saudosos — das pessoas queridas cuja companhia já não temos mais o prazer de desfrutar? O que temos feito além dos compromissos que garantem nossa subsistência? Que impressões, valores e legados não materiais estamos deixando para aqueles que convivem conosco? Como estamos impactando este mundo que nos recebe em caráter provisório? Somos passageiros conscientes de que temos a responsabilidade de manter e melhorar o ambiente que nos cerca, para que a vida continue, de preferência melhor, depois de nós?