Na semana passada, comemorava-se em Joinville o fim das redes elétricas com fios aparentes em algumas das principais vias do Centro da cidade, como a Nove de Março e a rua do Príncipe. Apesar do alto custo da fiação subterrânea (que representa cerca de 20 vezes o valor da convencional), são indiscutíveis a beleza e a sensação de bem-estar que esta iniciativa proporciona para quem circula pelo espaço urbano.

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Dependendo do ângulo do observador, as ruas sem fios pendurados entre os postes trazem uma certa nostalgia do passado. Afinal, em alguma delas ainda temos o privilégio de contar com prédios de mesmo padrão arquitetônico dos tempos em que ainda não desfrutávamos dos benefícios da energia elétrica. Por outro lado, estas ruas também traduzem melhor o presente e as nossas expectativas em relação ao futuro. Afinal, fios estão se tornando utensílios do século passado. O leitor já percebeu o quanto estamos nos acostumando a conectar os dispositivos eletrônicos que utilizamos na maior parte do dia em redes próximas, wireless?

Se me permitem a licença poética, somos uma sociedade wi-fi, formada por pessoas idem, e estabelecemos este conceito como padrão para tudo o que nos cerca. Mesmo que os fios, quando ainda necessários, deixam de ficar à vista dos nossos olhos. O wi-fi não parece perfeito para resumir as conexões que nos interligam à alta tecnologia e às nuvens de dados que reúnem todo o conhecimento humano disponível no mundo, sem qualquer tipo de contato físico?

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Senti-me uma wi-fi outro dia, quando precisei recorrer às facilidades do Google para complementar uma parte daquilo que já me escapara da memória. Recebi por e-mail a descrição de um escritor e de sua mais recente obra, que eu havia lido e sobre a qual guardava as melhores referências, além de diversos detalhes. Mas como era mesmo o nome do autor? Como era possível que eu conseguisse descrever passagens completas do enredo e dilemas cruéis dos personagens e não tivesse a capacidade de me lembrar do título da obra?

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Pois é, na sociedade wi-fi, somos assim. Uma parte importante de nossa memória não fica mais junto conosco, mas permanece ao nosso alcance. Por uma conexão. Sem fio. Armazenada longe do cérebro e das gavetas, armários e puxadinhos que ainda nos rodeiam. Mas próxima da lembrança. E, acima de tudo, do coração.