Talvez não seja nada além da tendência natural do ser humano, de procurar padrões onde eles não existem. Mas não podia deixar de reparar nas coincidências de encontrar duas palavras formadas com o prefixo latino “des” quase ao mesmo tempo: na capa do livro “Alfabeto da Sociedade Desorientada — para Entender o Nosso Tempo”, recém-lançado pelo sociólogo italiano Domenico De Masi, e no título da reportagem especial da edição comemorativa de 50 anos da revista “Exame”: “A nova desordem mundial”.
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O leitor já deve ter reparado que vocábulos iniciados com este prefixo estão presentes muito além dos adjetivos utilizados nos exemplos iniciais para (des)qualificar o mundo em que vivemos. Da desaceleração do crescimento econômico ao aumento da desigualdade entre as pessoas; do descaso dos governos em relação à sociedade ao descarte desenfreado da sociedade de consumo.
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Quantos de nós não nos sentimos despreparados para lidar com as mudanças que se apresentam todo dia? Aliás, o que seria a mudança senão uma descontinuidade atrás da outra?
Depois de divagar por alguns dos desarranjos que nos cercam, é importante retomar o tema da crônica e mostrar que o plural utilizado no título não foi um caso de desatenção da cronista. É preciso, também, desfazer o eventual equívoco de que o prefixo em questão seja sinônimo apenas de desalento e desconforto.A outra coincidência, encontrada no livro de De Masi, foi uma agradável descoberta. Em capítulo dedicado à beleza, o sociólogo apresenta o triunfo da estética como marca de nossa época e festeja sua democratização.
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“Hoje, temos finalmente a sorte de experimentar uma arte produzida por muitos e destinada a muitos (…) Em Joinville, cidade brasileira no Estado de Santa Catarina, por genial intuição e impulso de seu ex-governador Luiz Henrique da Silveira, oitocentos jovens pobres usufruem de uma bolsa de estudo integral, realizada em colaboração com o mítico Bolshoi de Moscou, para realizar a miraculosa transformação de moleques em príncipes”. O que dizer de tamanho reconhecimento? Deslumbrante.