Tem certas frases que nos remetem a uma imagem tão forte, que temos vontade de viajar por suas muitas possibilidades. Topei com uma dessas na semana passada, enquanto lia o livro Entre a Glória e a Vergonha, memórias do consultor de imagem Mário Rosa. “O tempo é uma linha que precisamos viver para conectar os pontos”.

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Ligar os pontos nos livros de atividades era uma tarefa que eu apreciava quando criança. Não pela dificuldade, praticamente inexistente, já que a sequência dos pontos era indicada pela ordem crescente dos números que os acompanhavam. A magia estava em descobrir uma imagem que já estava ali, camuflada para os olhos, esperando que uma mão generosa lhe garantisse o direito à existência.

Fazer as vezes de artista para alguém que não domina as habilidades do desenho, como eu, é motivo de satisfação em dobro. Se o tempo é uma linha que se forma a partir da ligação entre os pontos, os traços iniciais são daqueles que nos trouxeram à vida – ou de alguém de extrema confiança por eles designado. Aos poucos, ganhamos firmeza nas mãos e esperteza no espírito para fazer nossas primeiras tentativas em relação ao tempo, começando em coautoria com nossos mentores. Até que vamos evoluindo e acabamos por conquistar a perícia necessária para decidir a forma reta ou curva de nossos traços, a distância que pretendemos percorrer entre um ponto e outro e a direção que nos parece mais indicada a cada momento.

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Mas o ser humano, competitivo e curioso, logo quer adivinhar com quantos pontos se faz uma vida. E mais: quais são as variáveis para ocupar um espaço de destaque no ranking do tempo? O volume de pontos colecionados ao longo da trajetória? As formas ousadas que surgem a partir de suas conexões?

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Já que a vida é finita (pelo menos por enquanto), outra questão é se há uma quantidade de pontos que, quando atingida, limite a existência. Se assim for, por meio da velocidade mais suave em conectarmos os pontos também é possível ampliá-la? Como a linha do tempo é traçada às cegas, há sempre uma apreensão em relação à figura que estamos construindo. Ela será do nosso agrado? De certeza, apenas que não haverá chance de retorno. Melhor apostar na qualidade de cada traço, acreditando que o todo fará jus à soma de suas partes.