Há certas expressões que caem como uma luva para situações específicas, sendo utilizadas tanto por protagonistas quanto por profissionais que relatam suas novas atribuições. É quase um consenso que assumir um cargo, no setor público ou na iniciativa privada, com frequência é descrito como “imprimir um novo ritmo” às responsabilidades recém-adquiridas. A presidente do Supremo Tribunal Federal imprimiu. O novo secretário estadual de Saúde também. Assim como muitos executivos que assumiram a presidência de companhias de diversos segmentos.

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Oi?!? Mas o que significa exatamente imprimir um ritmo? Creio que tanto atores quanto redatores acostumaram-se de tal forma à combinação deste conjunto de vocábulos que sequer questionam o que, juntos ou separados, eles de fato representam. Se formos às raízes das palavras, imprimir significa fixar, inspirar ou, o que parece mais adequado para a expressão ora em questão, deixar uma marca. Ritmo, nos ensina o dicionário, é uma sucessão de tempos fortes e fracos que se alternam com intervalos regulares.

Já que a definição musical pouco acrescenta, podemos nos ater a alguns de seus sinônimos, mais adequados a este caso: regularidade, andar, frequência, movimento e, especialmente, execução e padrão. Resumindo, então, quando leio que alguém que foi designado para uma função importante vai imprimir um novo ritmo às suas tarefas quer dizer que ele(a) vai “deixar uma marca na execução ou no padrão desta atividade”. Só isso? Infelizmente, é o que parece. Ou o que se depreende das palavras escolhidas para tal.

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Ok, é um pouco óbvio que um novo comandante de alguma coisa coloque em seus atos suas próprias digitais (únicas, entre os sete bilhões de seres vivos, pelo menos até que se tenha alguma prova em contrário). Mas o que estas digitais exatamente revelam (para quem assiste, escuta ou lê) sobre a declaração deste novo ungido? Com o perdão da sinceridade, nada. Mais uma expressão originária de um discurso vazio, com ausência de sentido, que se repete, à exaustão, apenas porque em situações em que alguém assume uma nova atividade espera-se que emita alguma espécie de compromisso público.

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É preciso ir além. Que tipo de ritmo? Com que propósito? Para resolver o quê? Fica a sugestão para os próximos mandatários.