Já faz 20 anos, desde que experimentei a maternidade, que maio tem uma aura especial, em que tudo o que me cerca, especialmente no mundo das palavras, acaba por criar algum tipo de conexão com o sentimento materno.

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Foi o que aconteceu no final de semana, com a leitura de uma reportagem da revista Piauí, Sem lenço, sem documento, de autoria da escritora americana de origem turca Elif Batuman. Ela falava de sua experiência na Turquia, ao vivenciar a cultura islâmica com os cabelos escondidos sob um lenço, e perceber que desta forma conquistava vantagens entre os habitantes daquele país (como a empatia, a gentileza e a compreensão) que não são percebidas por nós, que nos concentramos apenas na absurda inexistência de liberdade que pauta a vida daquelas mulheres.

Elif resumiu sua descoberta com uma frase que abriu múltiplas oportunidades de reflexão: “Ninguém tem tudo: todo mundo abre mão de certas coisas para obter outras.” Bingo! Não é isso que as mulheres fazem quando decidem privilegiar a maternidade diante dos desafios da atividade profissional? Quando optam por um programa familiar em vez de um happy hour com amigos?

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Aliás, não ter tudo, ganhar, perder e evoluir com este processo é uma das realidades mais concretas ao longo da vida. De homens e mulheres. Quando criança, as mudanças se revestem de novidade e costumam ser mais bem recebidas do que na fase adulta, quando já conquistamos um status quo, confundimos nossa identidade com ele e acabamos por criar aversão a qualquer coisa que ameace nos afastar da zona de conforto arduamente alcançada.

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“Cada um tem seu núcleo de apego e reage a ele como pode. O medo da perda traz a necessidade de apegar-se para poder controlar a situação.” A frase agora é inspiração da psicoterapeuta e coach executiva Jo Pavesi.

Apego. Medo. Controle. Quanto estas palavras dizem sobre nossas angústias e nos afastam da criança que fomos um dia? A criança que compreendia e valorizava o caráter passageiro da idade, na expectativa de crescer e ampliar as fronteiras do conhecimento. A criança que privilegiava a curiosidade ao medo. A criança que temos ao nosso lado, em casa, e que nos mostra que o melhor da existência acontece quando deixamos de lado a terceira palavra, o controle (que ela nem sabe exatamente o que significa).